Frank, na entrevista à Sputnik Mundo, disse que não vê a hora de chegar à Copa na Rússia.
A foto em que Clovis abraça uma cópia do troféu após a derrota da Seleção Brasileira na Copa de 2014 frente à Alemanha por 7 a 1 circulou pelo mundo inteiro.
A estreia do "Gaúcho" se realizou na Itália em 1990. Até esse momento, Clovis trabalhava sem descanso. Nunca tinha viajado de férias, até que decidiu ir a Milão para apoiar a seleção verde-amarela.
"A gente foi classificada cedo pela Argentina. E ele [Clovis] retornou. […] Quando ele chegou no Brasil, olhou para mim e disse assim: 'Tu faz um curso de inglês e na próxima tu vai ser o meu intérprete'", relatou Frank Fernandes à Sputnik Mundo.
Foi assim que tudo aconteceu. Em 1994, pai e filho se dirigiram a Los Angeles para o Mundial. Desta vez, o Brasil saiu vencedor. Isto foi um momento muito importante, já que até então não conseguira vencer por 24 anos.
"E aí a gente gostou tanto de fazer esses eventos internacionais que a gente também começou a frequentar Olimpíadas, Copas América e Confederações. Hoje a gente está com sete Mundiais. Na verdade, meu pai tinha sete, eu estou com seis, vou empatar com ele na Rússia", contou Frank.
A esses périplos duradouros se juntaram outros irmãos de Frank: Gustavo que visitou quatro Copas, e Karine e Marjorie que viajaram para os Jogos Olímpicos. Em 8 de junho Gustavo e Frank embarcaram no voo a Moscou para chegar em 10 de junho.
Frank e Gustavo integram o grupo Gaúchos da Copa que foi fundado ainda por seu pai e tem o nome da alcunha que recebeu por seu amor aos chapéus e ao bigode de sempre. É como um verdadeiro cowboy brasileiro — gaúcho.
Os irmãos viajam para a Rússia com a famosa taça e o chapéu de Clovis — símbolos muito bem reconhecidos pelos torcedores, que pedem para se fotografar e assim tocar um pouco a magia que o Gaúcho da Copa legou aos brasileiros.
"A gente costuma dizer que essa taça é mais beijada e mais tocada e mais pessoas fazem o gesto de a levantar (como os capitães fazem quando são campeões) do que o próprio original. O original fica lá guardado no museu e só se levanta de quatro em quatro anos. Mas essa, ela [a cópia] fica no meio do povo", contou Frank.
O filho de Clovis trabalha na esfera de turismo e também na área da restauração na Praia do Rosa, localidade na costa atlântica do estado de Santa Catarina. Já que o seu objetivo é o "intercâmbio" com os povos da Rússia, considerados por Frank povos-irmãos para os brasileiros, está pronto para oferecer habitação na costa oceânica aos russos que concordem em aceitar o seu irmão em Moscou, Rostov-no-Don, São Petersburgo e outras cidades em que a sua seleção vai jogar.
A taça é igual à verdadeira e até tem o mesmo peso. Quando Clovis se tornou popular no Brasil, lhe ofereceram a cópia. Foi então que o Gaúcho da Copa decidiu a levar para todos os jogos.
Frank ressaltou que essa copa lhe trouxe muita sorte.
Para ele, a Copa de 2018 tem uma importância até mística. Ela o faz regressar ao ano de 1994, à época da primeira viagem com o pai à Copa, aos EUA, quando o Brasil venceu o seu quarto campeonato. Em breve Frank completará 40 anos, a idade com que o seu pai tomou uma decisão fundamental de viajar aos EUA.
"Nunca tinha saído para fora do Brasil. Tinha 14 anos, nunca tinha andado de avião. Tinha o sonho de visitar os Estados Unidos e fui aos Estados Unidos. E ganhei o meu primeiro Mundial. E lá aqui na bancada o pai olhou quando a gente foi campeão e disse assim: 'Eu só tive uma emoção mais forte do que essa que estou sentindo agora — foi ter tido vocês, tu, a Marjorie, a Karine e o Gustavo'. Eu me lembrarei disso para sempre", recordou.
Há duas semanas Frank soube que a sua mulher está grávida. "Hoje eu consegui entender o que ele disse em relação à emoção que ele sentia porque nesse ano faz duas semanas que eu descobri que vou ser pai também", contou o futuro pai à Sputnik Mundo.
Frank lembrou como homenagearam Ayrton Senna da Silva, corredor da Fórmula 1 que morreu durante o Prémio Grande em San Marino, várias semanas antes do início da Copa nos EUA em 1 de maio de 1994. Então a seleção saiu para o campo com o cartaz dizendo "Senna, aceleramos juntos ao tetra".
Depois se realizou o Mundial na Coreia e Japão, quando Clovis se tornou muito popular. Apesar das esperanças de a Seleção Brasileira jogar primordialmente no Japão, o sorteio caiu na Coreia do Sul, um lugar que conhecia pouco.
Frank confessou: "A gente pouco conhecia a Coreia naquela época. Tínhamos que fazer tudo rápido para aprender a cultura, tudo para chegar no país novo. E aí foi muito divertido. Eles são especiais e nos receberam muito bem. E a gente conseguir levantar a Penta. Foi marcante. Foi justamente na Copa que ele foi eleito símbolo da conquista".
Entre esses eventos estiveram "outros campeonatos maravilhosos, mas em nenhum o Brasil ganhou": Alemanha em 2006, África do Sul em 2010. Afinal de contas, em 2014 a Copa chegou à sua Pátria.
"Chegou o momento de a gente receber, porque todas essas Copas que a gente fez, a gente fez muitos amigos durante a viagem. […] No momento que o Brasil virou sede, a gente se preparou para receber todo o mundo, inclusive o Porto Alegre que é a cidade onde mora a minha mãe", lembra.
Enquanto a mãe recebia os hóspedes, o pai e o filho estavam seguindo a seleção de carro, cobrindo durante a Copa 14.000 quilômetros.
Frank está certo que os russos também vão perceber a magia desse evento esportivo já em breve.
Os brasileiros tiveram a oportunidade de revanche no Rio em 2016, quanto no estádio de Maracanã conseguiram o ouro olímpico jogando contra a Alemanha. Na época foi Neymar que marcou o penalty que definiu o encontro e deu ao Brasil o único troféu que até o momento não tinha conseguido ganhar.
As partidas de Londres, em 2012, também marcaram a história. Junto com os torcedores chegou a batucada para animar a seleção. Os torcedores brasileiros foram os primeiros a fazer isso no estádio de Manchester United.
Nessa Copa, os brasileiros conseguiram a prata. Em um gesto de agradecimento e em honra do 60º aniversário do reinado da rainha Elizabeth II, a família Fernandes levou ao palácio de Buckingham e de Saint James as camisolas tradicionais dos Gaúchos da Copa para a família real.
Nesta Copa, os torcedores gaúcho prepararam para os russos chimarrão: assim se chama o mate no sul do Brasil. Frank explicou que esta bebida é um símbolo que aproxima as pessoas, tal como a Copa.
"A Copa do Mundo é um evento mágico. O que a gente tem visto aqui do Brasil é que são belos estádios, um povo muito querido, um povo que está irmanado, que está esperando a festa. Uma cultura muito diferente da nossa que a gente está louca por conhecer e fazer festa com essa galera que aqui a gente percebe é muito legal, muito maravilhosa. A gente está louca para a conhecer de verdade e dar um abraço", disse Frank sobre o país anfitrião, notando que a Copa será "uma boa oportunidade de fazer um intercâmbio maravilhoso".
"Eu sonho com esse momento. Na verdade eu estou muito ansioso, muito louco para ir. Estou muito feliz, muito emocionado. Vai ser a minha primeira Copa sem meu pai. É um misto de energia, de sentimento que a gente não consegue descrever", compartilhou.