Em entrevista à Sputnik Internacional, Yun Sun, especialista em relações sino-americanas, codiretor do Programa da Ásia Oriental do Instituto de Pesquisa do Centro Stimson em Washington, disse estranhar que alguém ache inesperadas as tarifas norte-americanas sobre as importações da China.
"É interessante como os EUA observam a China desempenhando um certo papel nas relações com a Coreia do Norte, e como estas relações podem ser usadas a favor ou contra a disputa comercial", destacou.
"Acredito que os chineses estão pensando assim: 'No ano passado o presidente Trump nos prometeu que, caso ajudássemos os EUA na questão da Coreia do Norte, o acordo comercial seria muito melhor. Contudo, agora parece que os EUA estão fazendo sucessos na desnuclearização da Coreia do Norte e que o acordo comercial que a China obtém é muito pior'", assegurou o analista, acrescentando que, no ver da China, há muitos motivos para queixas e descontentamento.
Yun Sun recordou as afirmações de Trump de que os EUA não temiam a guerra comercial por terem um enorme défice, e que a guerra comercial resultaria em maiores perdas para um país com superavit, mesmo que os economistas tenham qualificado essa lógica como errada.
"Agora a China pensa que Trump é capaz de cancelar quaisquer compromissos anteriores atingidos nas negociações. Em conexão a isso, surge a questão de saber se os EUA eram honestos nessas negociações comerciais", explicou.
Segundo a declaração do governo chinês, caso os EUA continuem insistindo na introdução de tarifas especiais sobre as importações chinesas, os resultados das negociações anteriores também serão cancelados pela China.
"Acho que, depois de várias rodadas de negociações, a paciência chinesa acabou. Por isso, não vou ficar surpreendido caso comecem confrontos comerciais entre os EUA e a China, o que significa que os dois lados prosseguirão com tarifas mútuas, medidas e contramedidas", assinalou.
O analista destacou que a China não usou ainda seu principal trunfo, Wang Qishan, vice-primeiro-ministro chinês, que possui uma enorme experiência de negociações com os EUA.
"Ele ainda não foi encarregado de resolver este problema, mas seu envolvimento seria a medida extrema nas negociações", assinalou Sun.
"Se você ler atentamente a declaração dos EUA, dá para ver que eles adiaram a imposição de tarifas especiais até 6 de julho. Isso acontecerá daqui a três semanas. Por isso, acredito que os norte-americanos também querem assegurar espaço de manobra a fim de fazer a China concordar com concessões. Mas a questão é se a China concordará ou não com essas concessões", ressaltou.