No início de maio, o presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou que o país se retiraria do JCPOA, comumente conhecido como o acordo nuclear com o Irã, e restaurariam sanções abrangentes contra Teerã, incluindo sanções secundárias contra instituições financeiras de terceiros países que fazem negócios com o Irã.
No início deste mês, o chanceler iraniano Javad Zarif disse a outros participantes do JCPOA – China, Alemanha, França, Rússia e Reino Unido – que eles deveriam compensar totalmente as perdas de Teerã que resultam das sanções dos Estados Unidos se quisessem ver o acordo nuclear sobreviver.
Situação agravada no Oriente Médio
Especialistas sugeriram que a possível decisão de Teerã de deixar o JCPOA poderia resultar na União Europeia se unindo aos Estados Unidos em medidas restritivas similares contra Teerã.
"Sabemos que os EUA estão interessados em que o Irã abandone o acordo e, se o Irã for embora, e Berlim e Bruxelas não conseguirem convencer o Irã a ficar, então pode acontecer que a UE, Berlim, [fiquem] do lado os Estados Unidos sobre esta questão. Isto, é claro, será ruim [e causaria] o agravamento [da situação] com o Irã. Sabemos que nos EUA estão interessados em agravar o conflito com o Irã", disse Andreas Maurer, presidente do partido alemão A Esquerda (Die Linke), na cidade alemã de Quakenbruck.
Da mesma forma, Farhang Jahanpour, professor adjunto do Departamento de Educação Continuada da Universidade de Oxford e especialista em Oriente Médio, argumentou que a possível decisão da União Europeia sobre as sanções anti-Irã seria "extremamente imprudente".
"Criar confusão e insegurança em um país tão grande e consequente como o Irã criaria uma situação que seria muito pior do que a que vimos antes. É do interesse de todo o mundo impedir essa loucura", destacou Jahanpour.
De acordo com Waldemar Birkle, membro do partido Alternativa para a Alemanha (AfD), a possível decisão de Teerã de se retirar poderia criar instabilidade não apenas dentro do Irã, mas também na região do Oriente Médio em geral porque "países como Israel e Estados Unidos começarão a agitar suas armas por aí".
Piora econômica na UE
Além disso, a possível saída do Irã do JCPOA poderia afetar negativamente a economia dos países da UE, atingindo os setores de negócios e energia.
"A UE está tentando diversificar suas fontes de energia. Um país como o Irã, com a segunda maior reserva de gás do mundo e a segunda maior reserva de petróleo do Oriente Médio, pode ser um importante fornecedor de energia para a UE. O preço do petróleo já ultrapassou US$ 80,00 por barril. Se o petróleo e gás iranianos forem retirados do mercado, especialmente se o Irã estiver desestabilizado, o preço da energia passará subir ainda mais, o que não será bom para a UE ou para o resto do mundo", salientou Jahanpour.
Segundo Birkle, a saída do Irã do acordo poderia ter consequências negativas para os negócios europeus e seu comércio com Teerã.
Outros signatários do acordo podem ajudar
Os signatários restantes do JCPOA, incluindo a Rússia, podem tomar medidas para impedir que o Irã abandone o acordo.
"Eu acho que o ministro de Relações Exteriores da Alemanha deve agora tomar a iniciativa e tentar influenciar o Irã em um nível diplomático. Eu vejo aqui também o papel da Rússia, porque a Rússia também tem uma grande influência e bons contatos com o Irã. Eu acho […] que a Rússia possa influenciar a liderança do Irã a permanecer no acordo", ressaltou Maurer.
Birkle, no entanto, expressou dúvidas sobre a capacidade de Berlim de influenciar o Irã, já que a Alemanha estava enfrentando vários problemas internos.
O JCPOA foi assinado em 2015 pelo Irã, a União Europeia e o grupo de países P5 + 1 — China, Alemanha, França, Rússia, Reino Unido e Estados Unidos. O acordo estipulava o levantamento gradual das sanções anti-iranianas em troca de Teerã manter a natureza pacífica de seu programa nuclear.