Kharlamenko, diretor de um dos centros do Instituto da América Latina da Academia de Ciências da Rússia, recordou que as revoluções que ocorreram nestes Estados no século XX acabaram com o controle que os EUA tinham sobre estas nações.
"Está claro que estas revoluções foram percebidas como uma bofetada dada a muitos políticos em Washington que se consideravam donos não apenas do hemisfério ocidental, mas também do mundo inteiro", sublinhou o especialista em entrevista à Sputnik Mundo.
Por que Washington 'se preocupa' com a democracia na Venezuela?
O interlocutor da Sputnik opina que a Venezuela é de grande interesse econômico para os EUA, sendo um dos jogadores-chave no mercado de petróleo.
Segundo os dados publicados em um relatório da British Petroleum, nos fins de 2017 este país latino-americano contava com as maiores reservas de petróleo bruto no mundo: mais de 303,2 bilhões de barris.
Quanto a Cuba, é importante para os EUA em primeiro lugar devido à sua posição geográfica, pois desde os tempos de Cristóvão Colombo tem sido considerada "a chave da América", explicou o cientista russo, destacando que hoje em dia "Cuba se encontra no cruzamento das principais vias marítimas que se estendem entre a América do Norte e a América do Sul".
Falando da Nicarágua, o país, segundo Kharlamenko, poderá construir uma via alternativa ao canal do Panamá.
"Esta é a razão pela qual os EUA sempre buscaram ocupar este país — para que ninguém mais possa criar um canal alternativo ao do Panamá", opinou o cientista.
Em que Washington gastará o dinheiro aprovado?
De acordo com o cientista político, Caracas faz parte de uma grande economia transfronteiriça e os adversários das autoridades venezuelanas sempre tentaram transferir para Venezuela o narcotráfico da Colômbia.
"Este cenário costumava ocorrer nos tempos de distúrbios maciços. Atualmente, a situação está sob controle do governo venezuelano. As eleições se celebraram tranquilamente […] e este fato não deixa em paz a oposição, EUA e seus aliados", ressaltou Kharlamenko, acrescentando que o mesmo acontece na Nicarágua.
Antes, a Nicarágua era o único país sem narcotráfico e criminalidade fronteiriça, detalha o analista, mas agora há intenções de "romper esta barreira" no caminho de narcotráfico.
Precisam os países em questão da ajuda norte-americana?
Porém, segundo Kharlamenko, mesmo que os planos dos EUA tenham realmente este objetivo, eles contradizem a Carta da ONU, que qualifica como crime a interferência nos assuntos internos de países soberanos.
"É um assunto interno, e se os três Estados sofrem de violência ou precisam de apoio, podem sempre se dirigir à ONU ou às organizações especializadas em proteção de direitos humanos. Não há necessidade que o Senado dos EUA lhe dê sua ajuda", afirmou o especialista russo.
Falando do nível de democracia nos países latino-americanos em questão, Kharlamenko acredita que este é bastante adequado e poderia ser mais amplo "se não tivesse sido iniciada uma guerra silenciosa".
Ele também destacou que a Venezuela mantém até agora o recorde mundial quanto ao número de eleições e referendos realizados nos últimos 20 anos durante os governos de Chávez e Maduro. A Constituição venezuelana, segundo o cientista, é uma das mais democráticas do mundo.