Dois mísseis
Naquele dia o avião da companhia aérea Iran Air fazia um voo de Teerã com destino a Dubai e com escala na cidade iraniana de Bandar Abbas, onde também se baseava a aviação militar do Irã. Dois mísseis de defesa antiaérea disparados do cruzador USS Vincennes da Marinha norte-americana atingiram o avião à altitude de quatro quilômetros, praticamente partindo a aeronave em duas partes.
Ao se justificar, os marinheiros diziam que o avião não respondeu a vários pedidos de mudar o rumo, sem mencionar que tentaram entrar em contato com o avião civil em uma frequência militar que lhe era desconhecida.
Medida de intimidação
Segundo o analista militar Yuri Lyamin, o Irã e os EUA na época estavam à beira da guerra, e os navios da Marinha dos EUA estavam sempre em estado de alerta. "Nos últimos meses do conflito americano-iraniano, os EUA atacaram repetidamente os navios do Irã. Os americanos afundaram várias lanchas, destruíram uma plataforma petroleira iraniana, danificaram uma fragata militar", conta.
O cruzador USS Vincennes fazia parte do grupo de navios norte-americanos que protegiam os petroleiros e caravanas comerciais de possíveis investidas da Marinha iraniana. Apoiando o Iraque, em meados de 1988 os EUA enviaram navios à região do golfo Pérsico. O cruzador era dotado de mísseis de cruzeiro Tomahawk, armas de artilharia, torpedos e mísseis guiados SM-2MR.
Difícil de errar
Levando em conta a situação na região na época, claro que não se pode excluir um erro nas ações dos norte-americanos, mas os analistas afirmam que um operador experiente pode determinar com facilidade o tipo de aeronave.
O especialista militar Mikhail Khodarenok explica: "Sim, os erros são inevitáveis, em especial nas regiões de ações militares. Mas tomar um avião civil por um avião militar — isso pesa na consciência dos norte-americanos".
Em épocas de paz, acrescenta, nas regiões com ativa movimentação civil, tentam não atacar os aviões que violam e espaço aéreo só com base nos dados de radares. Em primeiro lugar, um caça levanta voo e se aproxima da aeronave intrusa para estabelecer contato visual. O piloto comunica com este avião nas frequências internacionais e revela as suas intenções. Nada disso foi feito, embora os norte-americanos tivessem tudo o que era necessário para o fazer.
Condecorações dos heróis
O governo dos EUA não reconhece até hoje quaisquer violações por parte da tripulação do cruzador USS Vincennes. Nenhum marinheiro foi reconhecido responsável pelo derrube do avião civil. Além do mais, a tripulação foi galardoada com prémios pela execução rápida e organizada da missão.
A Casa Branca expressou pêsames na sequência da catástrofe, mas o então presidente, Ronald Reagan, chamou o assassinato de quase 300 pessoas de "ações de defesa necessárias".
No entanto, mais tarde, em 1996, os norte-americanos acabaram por concordar em pagar às famílias das vítimas cerca de 62 milhões de dólares (242 milhões de reais) no âmbito do acordo com o Irã sobre a retirada da demanda contra os EUA no Tribunal Internacional de Justiça da ONU.