Recentemente, a agência Associated Press publicou um artigo afirmando que o presidente Donald Trump teria discutido invasão militar à Venezuela durante um encontro na Casa Branca no ano passado.
Segundo ele, uma intervenção militar dos Estados Unidos contra a Venezuela é "uma possibilidade real de curto, médio e longo prazo". Porém, acrescenta que do ponto de vista do paradigma pós-Westfaliano, a invasão norte-americana à Venezuela não será apenas militar, pois o próprio conceito de guerra mudou desde 2001.
"Diante disso devemos nos perguntar: os Estados Unidos já não nos interviram? Diria que já o fizeram e que [uma intervenção] militar seria apenas um meio a mais dentro de diferentes formas que têm para atacar a Venezuela", disse o analista.
No entanto, acrescenta Mieres Vitanza, uma operação militar custaria muito a Washington, pois apenas agravaria a crise de confiança e liderança dos EUA na América Latina.
Segundo o interlocutor da Sputnik, os EUA criaram um "império" em crescimento que se estende além de suas fronteiras, envolvendo toda a humanidade. A expansão não é geográfica, mas, sim, abstrata, detalha o analista, realizando-se em dimensões tais como cultural, idiomática, de estilo de vida, formas de pensar, entre outras. Tudo o que está fora deste "império" será considerado "bárbaro, negativo, que deve ser erradicado", explica Mieres Vitanza.
As condições para uma interferência ou ataque militar direto contra a Venezuela "já estão dadas", alerta o especialista.
"Somos uma ameaça por termos valores, mentalidades, objetivos, ideologia e parceiros estratégicos diferentes dos Estados Unidos. […] Os interesses de Washington vão além da intenção de controlar algum produto estratégico para eles. Trata-se de conseguir submeter […] uma nação que não é aliada com uma forma epistêmica de pensar", afirmou.
Para o analista, as consequências da intervenção, mesmo que não seja militar, já são sentidas. E se trata não apenas de economia afetada e falta de certos produtos, mas de influência psicológica.
"Somos isolados de outros países e nações, de formas de pensar, por isso há um isolamento inclusive do acesso às ideias. […] Como não temos acesso a principais tanques de pensamento do mundo implica que não temos acesso à informação de como eles esperam travar a guerra contra nós. Por isso digo que as consequências a nível local e regional são devastadoras", opinou Mieres Vitanza.
O analista acha que as duas potências participariam ativamente do possível conflito principalmente para defender seus interesses econômicos e comerciais na região. Caracas, por sua parte, faz todo o possível para que os laços com Moscou e Pequim se fortaleçam.
Falando sobre provável estratégia americana de dominar a Venezuela, o especialista opinou que os EUA usarão primeiro vários meios políticos para tomar controle do território do país antes de dividir o Estado. A destruição de uma nação, segundo ele, implicaria em certos riscos para Washington, em particular, na participação da Rússia e China na formação de novos Estados.
No entanto, a nação latino-americana não é tão fraca perante os Estados Unidos: Caracas tem destinado muitos esforços para modernizar e manter o exército, mas tem também outra grande vantagem.
"A vantagem talvez mais importante que tem a Venezuela é saber quem é seu inimigo, reconhecer como podem ser todos os cenários bélicos", ajudando, assim, a defender o país. "A Venezuela já tem preparada uma resposta militar a um possível ataque dos Estados Unidos", destacou.
Criando novas táticas estratégicas e entendendo as estratégias do inimigo, o exército bolivariano será capaz de dar uma resposta eficiente a qualquer ameaça que venha de fora, conclui Mieres Vitanza.