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Por que Brasil toma caminho de um aprimoramento cada vez maior das Forças Armadas?

© REUTERS / Adriano MachadoPoliciais e forças especiais brasileiras em Brasília (foto de arquivo)
Policiais e forças especiais brasileiras em Brasília (foto de arquivo) - Sputnik Brasil
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O Brasil, tal como toda a região da América Latina, sempre se considerou como o continente mais pacífico do mundo, com um número mínimo de conflitos militares e guerras. A Sputnik Brasil falou com uma especialista para saber ao que se deve a crescente propensão dos Estados latino-americanos para aumentar seu poderio bélico.

Como já havíamos discutido com a brasilianista e especialista em assuntos latino-americanos, professora titular da Universidade de Relações Internacionais de Moscou (MGIMO), Lyudmila Okuneva, a doutrina de segurança nacional brasileira pretende ser meramente defensiva, sendo a proteção da região da Amazônia um dos principais pilares dela.

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Entretanto, isso não impediu que em novembro do ano passado os militares brasileiros participassem dos exercícios conjuntos com os EUA e outros Estados latino-americanos, AmazonLog 17, em pleno coração da Amazônia. Será que esse evento não contradiz o conceito de não intervenção externa na respectiva região?

"Aqui, talvez [os brasileiros] queiram ir atrás dos EUA ou aprender algo deles […] Aí, claro que vão participar das manobras. Claro que sim, para eles os EUA são, digamos, um parceiro que nunca iriam recusar, inclusive no campo militar. Mas sempre há um momento de ‘cooperação VS rivalidade", como acontecia na segunda metade do século XX e no início do século XXI […] Eles podem ser amigos, mas quando se pode desaprovar — eles desaprovam", explica a cientista política russa.

Como exemplo, a especialista cita o caso do bloco ALCA (Área de Livre Comércio das Américas), que foi descartado pelos Estados latino-americanos (inclusive o Brasil) na versão estadunidense, e o escândalo dos grampos que aconteceu no primeiro mandato de Dilma Rousseff. Este, contudo, ficou de fato nivelado, uma vez que Brasília sentiu necessidade em investimentos e acabou com a normalização de relações e realização da visita anteriormente cancelada da mandatária do Brasil aos EUA.

"Quando eles entenderam, a própria Dilma entendeu que eram precisas tecnologias, era preciso cooperar e de alguma maneira virar essa página desagradável das relações bilaterais, ela o fez e foi para os EUA com uma visita de alto nível, […] ainda que uma semana antes da cúpula dos BRICS", argumenta Lyudmila Okuneva.

Desse jeito, enfatiza ela, o conceito da soberania brasileira em relação às regiões amazônicas e do Atlântico Sul não contradiz, de fato, a disponibilidade para realizar manobras com tais países como, em primeiro lugar, os EUA.

Projeto de submarino atômico

Mais cedo, houve informações que o Brasil finalmente retomou o projeto de construção do seu primeiro submarino nuclear, arrastado por causa das perturbações econômicas e políticas no Brasil.

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Para alguns, pareceu um passo inesperado: é estranho ver uma das potências mais pacíficas no mundo planejando construir uma arma deste tipo, dado que ela está formalmente em disposição apenas dos cinco países-membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU e participantes do chamado "clube nuclear" — Rússia, EUA, França, China e Reino Unido.

Mas na realidade este passo inscreve-se na doutrina puramente defensiva brasileira e está orientado a proteger o Atlântico Sul como zona dos interesses nacionais do Brasil. Por isso, adotaram um programa de reforço da Marinha até 2030, inclusive planejando construir cinco submarinos, sendo um deles nuclear. O objetivo dessa futura frota submarina é garantir a segurança, a navegação e o comércio no local, explica a professora.

Aspectos políticos

Assim, explica a interlocutora da Sputnik Brasil, o submarino nuclear serve, em primeiro lugar, para defender a "Amazônia Azul", ou seja, as reservas estratégicas do país. Mas, evidentemente, esse não é o único motivo.

"Possuir esse submarino nuclear é uma coisa muito importante para eles, tanto mais que se considera que esse tipo de frota só existe nos cinco países-membros [permanentes] do Conselho de Segurança da ONU. Acredita-se que com essas tecnologias o Brasil seria capaz de ganhar mais argumentos para assumir a posição do membro permanente deste órgão, o que é a diretriz permanente da política externa do Brasil. É assim que se garantem os objetivos políticos hoje em dia — através do poderio militar", sublinha a especialista.

Segundo acredita Lyudmila Okuneva, tal postura brasileira é um ato para tentar se encaixar no quadro político mundial de hoje, que é cada vez mais norteado por fatores militares.

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"De fato, se está travando uma nova corrida armamentista, com todos os países como exemplo, até o Brasil, que é todo pacífico e não querendo intervir em nada, mas mesmo eles entendem que, se precisam de alguma argumentação para serem um membro permanente do Conselho de Segurança, têm que se reforçar desse modo", observa.

A respectiva observação, porém, tem a ver não só com o Brasil, mas com toda a região, tendo como uma ilustração a recente adesão da Colômbia à OTAN.

"Sempre acreditamos que a América Latina fosse um oásis de estabilidade, um oásis de desenvolvimento pacífico e contínuo, pois na 'época dourada' ela de fato se desenvolveu, havia uma conjuntura econômica global muito boa, eles [países latino-americanos] vendiam petróleo, vendiam 'commodities'", diz a pesquisadora.

"Mas em algum momento, a crise econômica e política chegou até à América Latina e esta se tornou uma zona de conflitos. Por enquanto, esses conflitos são sociais e políticos, mas quem sabe? Se tivessem mais dinheiro, também teriam seguido o caminho armamentista, de comprar e produzir armas?", resume a especialista.

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