A ida do deputado federal seria só mais uma das inúmeras caravanas que os pré-candidatos estão fazendo pelo país. Só que foi exatamente nesta região onde se instalou a chamada Guerrilha do Araguaia, movimento armado que durante a ditadura militar tentou fomentar uma revolução socialista no Brasil nos moldes da revolução cubana e foi duramente reprimido pelas Forças Armadas.
A Spuntik Brasil entrou em contato com Victória Grabois, vice-presidente do grupo "Tortura Nunca Mais do Rio de Janeiro".
"Ele é um candidato extremamente conservador, autoritário que estava como uma boa colocação nas pesquisas e agora, segundo eu sei, está começando a cair. Isso é uma forma de chamar a atenção", defende.
Segundo os próprios militares, mais de 80 pessoas morreram durante a guerrilha. Um dos casos mais emblemáticos foi a morte de Osvaldão (Osvaldo Orlando da Costa), engenheiro, oficial da reserva do Exército e integrante do Partido Comunista do Brasil (PCdoB). Após ser assassinado seu corpo foi amarrado a um helicóptero e exibido por toda a região.
Bolsonaro estará acompanhado de um dos ex-comandantes militares da Amazônia, o general da reserva Augusto Heleno Ribeiro Pereira. Ele declarou ao jornal O Estado de S.Paulo que a viagem não tem conexão com a guerrilha. "É uma viagem sentimental", disse.
Victória Grabois lembrou que o Brasil chegou a ser condenado em 2010 na Corte Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA) por não ter punido os responsáveis pelas mortes e desaparecimentos no episódio.
"O que tem de mais importante na sentença do Araguaia é um artigo que os juízes determinam que a Lei da Anistia não é empecilho para aqueles que participaram de atos de prisões ilegais, torturas e ocultações de cadáveres, isso são crimes continuados", afirmou.
Grabois defendeu que os responsáveis pelas violações aos direitos humanos durante a ditadura deveriam ter sido denunciados e julgados.
"A comissão da verdade foi um grande marco, mas não foi o que nós esperávamos, não conseguiu denunciar esses agentes do estado, quer sejam militares ou civis. Segundo a Corte Interamericana de Direitos Humanos todas as pessoas que cometeram esse tipo de crime precisavam ser processadas. Precisavam ir para o banco dos réus e pelo menos indiciadas para depois serem julgadas", disse.