No entanto, um deles – o abalroamento – foi amplamente utilizado nas guerras do século XX. Entretanto, a sua variante – o encosto – é capaz de resolver uma missão de combate nos tempos atuais.
Tática da força
As principais potências navais equipavam os navios de guerra com aríetes até aos anos de 1870-1890, inclusive na era da marinha encouraçada. Estruturalmente esse dispositivo era um esporão dianteiro destinado a romper a parte submersa do navio inimigo e afundá-lo. Quando os navios a remo, e posteriormente veleiros, com artilharia de curto alcance dominavam os mares, um aríete podia em questão de minutos determinar o resultado de uma batalha.
Em 18 de março de 1915, o encouraçado britânico HMS Dreadnought "bateu" no submarino alemão U-29. Submarinos na posição emersa são particularmente vulneráveis a colisões, já que seus cascos não têm margem de resistência suficiente para suportar um impacto de tal poder colossal. Da mesma forma, o transatlântico Olympic esmagou o submarino alemão U-109 no Canal da Mancha, quebrando-o literalmente ao meio.
Em abril de 1943, a lancha torpedeira norte-americana PT-109, comandada pelo futuro presidente dos Estados Unidos John Fitzgerald Kennedy, foi cortada ao meio por um destróier japonês perto das Ilhas Salomão. Kennedy e demais sobreviventes chegaram nadando à praia.
Na noite de 28 de gosto de 1941, duas lanchas blindadas soviéticas atacaram por abalroamento uma flotilha de pequenos navios inimigos e destruíram três lanchas, duas embarcações de desembarque, um pontão com armas pesadas e quatro barcaças que transportavam infantaria e munições.
Em 12 de dezembro de 1944, o submarino soviético Lembit abalroou e afundou o submarino alemão U-479 no mar Báltico. O Lembit retornou ao porto com pequenos danos.
O uso do abalroamento era raro até na 2ª Guerra Mundial devido ao grande alcance da artilharia naval dos oponentes, aos torpedos modernos e à aviação embarcada. Já no século XXI os mísseis antinavio de longo alcance tornaram o abalroamento impensável.
Em 13 de março de 1986, dois navios da Marinha dos Estados Unidos – o cruzador de mísseis USS Yorktown e o destróier USS Caron – violaram a fronteira marítima perto da costa sul da Crimeia, entrando em águas territoriais da União Soviética por dez quilômetros. Os navios tinham em funcionamento suas estações radioelétricas e, obviamente, estavam realizando um reconhecimento complexo. Logo eles mudaram de rumo para regressar. A liderança militar e política do país recomendou o uso da tática do encosto.
Pequenos, mas atrevidos
Sem mudar de rumo, os norte-americanos foram diretos para Foros – nas águas territoriais soviéticas. Na manhã de 12 de fevereiro, o chefe do Estado-Maior da Frota do Mar Negro ordenou que o comandante do Bezzavetny transmitisse ao cruzador dos EUA o seguinte aviso via rádio:
"Pelas leis soviéticas existentes, o direito de passagem pacífica por navios de guerra estrangeiros nesta área é proibido. A fim de evitar um incidente, recomendo-lhe para mudar o seu rumo para evitar a violação das águas territoriais da União Soviética".
O Yorktown respondeu que não estava violando nada e que agia segundo as regras internacionais. Os norte-americanos foram avisados várias vezes, mas os navios não mudaram de rumo. Os dois navios-patrulha da Frota do Mar Negro, de acordo com a ordem recebida, deram velocidade máxima apontando aos navios estadunidenses. O Bezzavetny se encostou ao costado de bombordo do Yorktown, cortando seu parapeito e danificando a instalação de mísseis antinavio Harpoon.
Ambos os navios soviéticos escaparam com o mínimo de danos, se afastaram a uma curta distância e continuaram a escolta preparados para repetir a manobra. Mas não foi necessário. A esquadra norte-americana mudou imediatamente de rumo, voltando para o Bósforo.