EUA estão preocupados com o poder da China na América Latina

CC BY 2.5 / Casa Rosada Argentina / Antena de la CONAE-CLTC NeuquénEstação Espacial de Espaço Profundo construída pela China na Patagônia
Estação Espacial de Espaço Profundo construída pela China na Patagônia - Sputnik Brasil
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Uma base chinesa de pesquisas espaciais localizada no centro da Patagônia, na Argentina, despertou o interesse do The New York Times, que a catalogou como "um dos símbolos mais impactantes" da transformação que Pequim busca realizar na região.

A Sputnik Mundo relata sobre os interesses por trás desse movimento do gigante asiático e o motivo de os EUA estarem preocupados.

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O jornal norte-americano destacou o assunto na capa da edição de 29 de julho e dedicou uma extensa reportagem em que analisa as razões por trás da instalação colossal na província de Neuquén. Sob controle chinês, o local faz parte do ambicioso projeto empreendido por Pequim para pousar no lado oculto da Lua.

Segundo o The New York Times, esta instalação é apenas uma das muitas evidências da crescente influência chinesa não apenas na Argentina, mas em outros países da região, nos quais investiu em construção civil ou aos quais concedeu empréstimos em troca de participações nas reservas de hidrocarbonetos.

"A base tem uma posição geográfica muito próxima da plataforma submarina argentina voltada para o Atlântico e de uma estação de monitoramento estratégico na Antártida, continente no qual a China possui a maior base científica do mundo", explicou à Sputnik Mundo Gustav Cardozo, analista do Centro Argentino de Estudos Internacionais (CAEI).

A construção do complexo espacial chinês em solo argentino, que abrange cerca de 200 hectares, é o resultado de negociações entre o governo de Cristina Fernández de Kirchner (2007-2015) e a administração de Xi Jinping, como um espaço de "pesquisa astronômica".

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Na opinião de Cardozo, a base "tem um objetivo de monitoramento militar" em um espaço privilegiado. Nos últimos anos, com projetos como este, a China tem demonstrado uma política de "corrida espacial", com um investimento muito forte e um aperfeiçoamento da tecnologia da Rússia e da antiga União Soviética, para se consolidar como um dos principais protagonistas do setor.

Na verdade, a base em questão é parte da Deep Space Network (Rede de Espaço Profundo), um conjunto de recursos de comunicação para apoiar as operações chinesas fora da Terra.

"A China tem uma forte intenção de explorar o espaço e competir estrategicamente com os EUA. Essa base militar não apenas permite monitorar o espaço, já que a Patagônia argentina e o sul do Chile são regiões geograficamente muito boas pela visibilidade que oferecem. Do meu ponto de vista, o interesse fundamental da China tem a ver com a Antártida", disse o especialista.

O continente branco é uma área "muito estratégica" aos olhos de Pequim devido à abundância de recursos naturais, além dos hidrocarbonetos e da mineração. Nos últimos tempos, os EUA "pararam de prestar atenção" não apenas à Antártida, mas também à América do Sul, e a China está sabendo aproveitar a situação.

"Com Donald Trump, esse distanciamento entre Washington e o resto dos países latino-americanos aumentou e a China, com um forte investimento, está ocupando o espaço que os EUA estão deixando para trás", esclareceu Cardozo.

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Desta forma, "através de meios científicos e tecnológicos", a presença militar da China está se consolidando, pois em instalações como a de Neuquén "o trabalho dos cientistas argentinos é mínimo". Os efetivos que controlam o perímetro são chineses e "as pessoas que vivem na área não podem entrar no perímetro".

Em qualquer modo, a Estação Espacial de Neuquén é um símbolo do poder do gigante asiático na América Latina. Na opinião do especialista do CAEI, "em uma década, a China desempenhará um papel extremamente importante na região", um lugar preponderante que já se observa, diz ele, devido à importância estratégica da América Latina, fornecedora de alimentos, matérias-primas e hidrocarbonetos.

Os exemplos citados pelo analista são o controle do canal do Panamá e seu investimento para ampliá-lo, assim como o incentivo à criação de novos corredores bioceânicos para melhorar o comércio. Isso faz parte do projeto chinês de incluir a América Latina na Nova Rota da Seda, o ambicioso projeto de investimento em infraestrutura no corredor que vai do sul da Ásia à Europa Oriental e África.

O The New York Times aponta para essa estratégia do país asiático e menciona que o vínculo que estreitou na era dos governos progressistas na América Latina (2005-2015) perdurou mesmo depois da mudança para a direita em vários países, como no caso da própria Argentina.

"A China está assumindo um papel de liderança. Isso vai aumentar no futuro porque tem fundos soberanos para investir e porque tem interesse na América Latina, interesse que nenhuma outra potencia extracontinental mostra. Acredito que, em poucos anos, em uma década, já será algo totalmente visível", considerou Gustavo Cardozo.

No entanto há uma diferença entre a China e outras potências que em dado momento estiveram presentes na América Latina: a política de tratar os países como parceiros, uma vez que, para Pequim, a "autodeterminação dos povos tem grande importância, assim como "o respeito à soberania interna". Isto se explica devido a seu passado como país que “sofreu tratamento desigual" por parte das potências coloniais.

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Se, indica Cardozo, em determinada época o chamado "Consenso de Washington" ditou um pacote de regras que deviam ser seguidas pelos países que recebiam assistência de instituições sob a égide dos EUA, "hoje poderíamos dizer que há um 'Consenso de Pequim'" com base na não interferência nos assuntos internos que a China defende.

Este consenso "se manifesta em regiões como a África e América Latina, onde há países jovens que dão muita importância às questões da soberania e da autodeterminação", disse o especialista.

Como exemplo, ele citou o caso da Venezuela, país com o qual a China tem mantido laços estreitos até mesmo quando outros países impunham sanções econômicas e diplomáticas. Pequim reiterou que a crise da nação caribenha "é algo que seu povo tem que resolver".

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