"O que se pretende é queimar algumas etapas para o estágio seguinte", frisa o especialista. "Não é só [foguete de] órbita baixa, porque isso já fazemos aqui, mas para os foguetes que podem atuar em uma faixa mais elevada, levando cargas médias. Uma coisa mais importante, mais pesada. […] Não é uma coisa de altíssima tecnologia, mas é óbvio que a Rússia tem anos e anos de desenvolvimento nessa área e seria uma contribuição espetacular, sem dúvida nenhuma."
Esse acordo difere da proposta norte-americana, que levantou polêmica em diversos setores da sociedade brasileira em relação ao uso do cosmódromo maranhense. A possível restrição de acesso de brasileiros à área, que ficaria sob administração dos Estados Unidos, já foi rejeitada pelo Congresso Nacional em 2002, inviabilizando o acerto. A negociação foi retomada neste ano.
Roberto Godoy destaca que a proposta russa não envolve o controle da base de Alcântara, mas, apenas, o seu uso para lançamento de foguetes.
"É uma outra minuta, que não tem nada dessas coisas. É óbvio que ela é mais limitada que a primeira, mas acho que pode satisfazer os nossos interesses. É uma questão de uso das instalações", ressalta Godoy.
O interesse de outros países em firmar parcerias para o uso da base brasileira, modernizada recentemente, justifica-se principalmente por sua posição no globo, que facilita e permite um rendimento maior e mais econômico dos lançamentos.
Segundo Roberto Godoy, a economia de combustível dos lançamentos feitos de Alcântara pode chegar a 40% em relação aos de outras bases. O especialista destaca ainda que o clima na região é outro fator favorável à atividade.
"As condições são normalmente adversas, complexas. Você tem janelas de lançamento, por exemplo, como acontece nos centros espaciais russos. Aqui, você pode programar e ter uma fartura de datas em que pode escolher praticamente qualquer dia para fazer sua operação", enfatiza o jornalista.
"A administração dele [Michel Temer] está muito interessada em deixar um legado positivo, depois de tanta má notícia que vem se acumulando ao longo deste período. Então, acho que há um interesse em acelerar, fazer com que as coisas sejam resolvidas mais depressa. Claro, o período da campanha eleitoral complica, porque muitas dessas coisas precisam ser aprovadas pelo Congresso. […] Mas acho que se houver empenho muitas coisas poderão ser resolvidas ainda neste ano. É difícil, mas há um certo empenho", destaca Godoy.
Em 2003, o Brasil já havia firmado um acordo de cooperação com a Ucrânia, no qual se previa o lançamento comercial de satélites através de foguetes de classe média Cyclon. Contudo, os atrasos nos prazos e as capacidades tecnológicas insuficientes fizeram com que o Governo brasileiro interrompesse a parceria com a Ucrânia em 2015.
Agora, o acordo proposto pela Rússia poderá ajudar a impulsionar o desenvolvimento aeroespacial brasileiro.