10 anos da agressão da Geórgia contra a Ossétia do Sul: era possível evitar o conflito?

© AFP 2023 / Mikhail MordasovBandeira da Ossétia do Sul, Tskhinval
Bandeira da Ossétia do Sul, Tskhinval - Sputnik Brasil
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No dia 8 de agosto se completam dez anos da agressão da Geórgia contra a Ossétia do Sul. O presidente da Rússia na época do conflito, Dmitry Medvedev, e o ex-comandante das Forças Mistas de Manutenção de Paz, Marat Kulahmetov, falaram sobre os motivos do conflito, as possibilidades de este ter sido evitado e outras questões relacionadas.

Em entrevista ao jornal Kommersant, o então presidente russo, Dmitry Medvedev, que atualmente ocupa o cargo de primeiro-ministro, disse que Tbilisi esperava que Moscou ocupasse uma posição neutra no conflito de 2008. "Acho que, naquele momento, ele [Saakashvili, presidente georgiano] já tinha realizado consultas de grande escala com seus patrocinadores, ou seja, com os EUA", indicou.

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De acordo com ele, "dado que naquela época a Geórgia era governada uma pessoa mentalmente perturbada, como Mikhail Saakashvili, não havia outra opção" a não ser um conflito armado. 

"Acredito que outro presidente não tomaria uma decisão tão horrível de atacar idosos e crianças, atacar as forças de manutenção de paz russas e, de fato, declarar guerra à Federação da Rússia", indicou. 

Ele recordou que os tanques russos pararam a poucas dezenas de quilômetros de Tbilisi. Contudo, de acordo com Medvedev, a Rússia pretendia somente libertar Tskhinval (capital da Ossétia do Sul), e não promover a violência, ou seja, ações militares. Ele apontou que essa postura ajudou a Rússia a normalizar rapidamente as relações com os países ocidentais. 

Dmitry Medvedev sublinhou que, ao reconhecer a independência da Abkházia e Ossétia do Sul, o mais importante que a Rússia ganhou foi a paz. 

"Conseguimos proteger nossos cidadãos, há muitos cidadãos da Federação da Rússia vivendo na Abkházia e Ossétia do Sul", disse o premiê. 

Em entrevista à Sputnik, o ex-comandante das Forças Mistas de Manutenção de Paz na área do conflito, e atual embaixador da Rússia em Tskhinval, Marat Kulahmetov, frisou que o lado georgiano difundia informações de que os militares russos alegadamente já se encontravam na Ossétia do Sul antes de 8 de agosto.

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Contudo, de acordo com Kulahmetov, essa teoria surgiu na equipe do então presidente georgiano, Mikhail Saakashvili, porque o plano de Tbilisi havia falhado e era necessário inventar uma desculpa para o fracasso da agressão.

Quando perguntado se o conflito podia ter sido evitado, Kulahmetov recordou como agia Saakashvili no período antes do conflito. De acordo com o embaixador, de 2004 a 2008, a Geórgia reforçou bastante seu potencial militar. Ao mesmo tempo, a equipe de Saakashvili recebia sinais do Ocidente que lhe permitiram "desatar as mãos" em relação à Ossétia do Sul.  Ao menos, ninguém lhe disse: "Não façam isso", acrescentou.

O embaixador acredita que, caso a comunidade internacional e o Ocidente tivessem tomado uma posição firme e tivessem dito a Saakashvili para parar, o conflito poderia ter sido evitado. Contudo, todo mundo via o que o presidente georgiano estava fazendo "e ninguém fez nada".

Além disso, falando sobre o aumento da colaboração entre a Geórgia e a OTAN, Marat Kulahmetov destaca que os EUA apostam no país para diminuir a influência da Rússia na área do Cáucaso do Sul, onde a Rússia sempre manteve fortes posições.

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Dmitry Medvedev compartilha esse ponto de vista. 

"Os países da OTAN […] de qualquer maneira encaram a Federação da Rússia como um adversário potencial. É perfeitamente claro que as suas capacidades militares, incluindo a tríade nuclear, estão apontadas para a Federação da Rússia. É um fato, infelizmente". 

O embaixador assinalou que a Rússia não deixa sem atenção as atividades da Geórgia que possam prejudicar seus interesses. 

Comentando a possibilidade de uma nova agressão de Tbilisi à Ossétia do Sul, o interlocutor da agência enfatizou que, após o reconhecimento da independência do país pela Rússia, "a situação mudou drasticamente".

"Aqui [na fronteira entre a Ossétia do Sul e a Geórgia] temos a 4ª base militar […] De acordo com o tratado bilateral de 2015 sobre a colaboração e integração, está estabelecido que temos um espaço comum de segurança e um perímetro comum de defesa. Acho que o Ocidente entende isso muito bem", destacou.

O antigo presidente russo apontou que "é muito bom para a própria Geórgia que a carreira de Saakashvili tenha acabado", e que a Rússia esteja pronta para manter boas relações com a atual chefia do país.

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