Um dos pontos mais relevantes da agenda de Mattis é tentar reverter a importância da China como aliado estratégico da região. Ultimamente tem sido registrado um crescente intercâmbio comercial entre Pequim e América Latina, assim como numerosos investimentos chineses em infraestruturas e programas de cooperação na área tecnológica.
Washington vê isso como uma ameaça ao seu poder na região, acredita Rodríguez Gelfenstein. Por isso, acha, os EUA optam por "ressuscitar a doutrina Monroe", ou seja, "a necessidade, em termos geoestratégicos, de controlar o que eles consideram o seu 'pátio traseiro'".
Os laços comerciais e os investimentos chineses se multiplicam exponencialmente na Ásia e na África. Na Europa, surge uma situação de tensão: por um lado, estão as exigências dos EUA e,por outro, os países não podem deixar de fazer comércio com a China nem de comprar gás da Rússia ou petróleo do Irã.
"Então, os Estados Unidos têm que tentar controlar seu espaço 'natural' que é a América Latina. Para isso estão empregando um esforço maior, embora já seja impossível [para os EUA] competir com a China em termos econômicos", disse Rodríguez Gelfenstein.
"A presença da China está crescendo e potencialmente vai ser muito maior. Os EUA não têm capacidade econômica para competir. Então a única coisa que podem fazer é o caminho da força, o caminho da ameaça e da chantagem", acrescentou.
A situação econômica mundial, em particular o crescente protecionismo por parte de Washington, faz com que os países latino-americanos busquem investimentos e recursos em outros mercados. Atualmente "onde há dinheiro não é no Fundo Monetário Internacional, nem no Banco Mundial, mas na China", ressaltou o interlocutor da Sputnik Mundo.
Venezuela, a "obsessão" dos EUA há 20 anos
O ponto principal da agenda de Mattis, segundo Rodríguez Gelfenstein, é chegar a acordo sobre uma linha dura contra a Venezuela — o chefe do Pentágono de fato propôs ao Brasil "liderar" a resposta regional à crise no país latino-americano.
"Estamos vendo uma ofensiva continuada que dura já quase 20 anos e que tem seus efeitos em termos políticos e diplomáticos", resumiu.
Por outra parte, Rodríguez Gelfenstein sublinhou as tentativas de vários Estados de enterrar a União de Nações Sul-Americanas (Unasul), projeto de integração que teve o Brasil como "pai".
"Se havia uma coisa que funcionava bem e de maneira rápida na Unasul era a comissão que agrupava os intercâmbios entre as forças armadas, entre as quais as brasileiras tinham o papel mais importante. [Michel] Temer a abandonou, reduziu seu orçamento e fez o que nenhum outro presidente do Brasil tinha conseguido — subordinar as Forças Armadas brasileiras à lógica dos Estados Unidos", concluiu.
Nesta segunda-feira (13), o secretário de Defesa dos Estados Unidos iniciou sua primeira visita à América do Sul, escolhendo como primeiro país o Brasil, onde teve reuniões com o ministro da Defesa, Joaquim Silva e Luna, e das Relações Exteriores, Aloysio Nunes Ferreira, para debater assuntos de interesse bilateral e regional.