A Sputnik detalha por que analistas preveem uma nova queda nos preços do ouro negro.
Tendência de baixa
A razão principal para isso é o relatório do Instituto Americano de Petróleo (API, na sigla em inglês) sobre um crescimento recorde anual nos inventários de combustível dos EUA. Ainda mais preocupante para os comerciantes foi o fato de que este aumento é devido a um forte aumento na oferta de petróleo da Arábia Saudita para os EUA, o que aumentou as exportações em um terço – para 1,24 milhão de barris por dia.
Em geral, as compras de petróleo estrangeiro pelos norte-americanos aumentaram 11% — de 8 a 9,01 milhões de barris por dia. Nessa ocasião, não haveria motivo para preocupação se não fosse o fato de que, em meados de agosto, 6,8 milhões de barris em "excesso" de petróleo se acumularam nos armazéns dos EUA devido a uma sobrecarga das refinarias.
Segundo especialistas, agora as refinarias de petróleo norte-americanas já estão carregadas em 98,1%, ou seja, operam praticamente sem reservas de capacidade estipulada por regulamentações tecnológicas. E os comerciantes de petróleo ao redor do mundo têm uma pergunta razoável: por que os EUA estão estocando ouro negro?
Tom Kloza, analista do Serviço de Informações de Preços do Petróleo (OPIS, na sigla em inglês), está confiante de que o atual declínio nos preços do petróleo é resultado da política da administração de Donald Trump.
No final de abril, o presidente dos EUA escreveu no Twitter que a OPEP inflou artificialmente o preço do petróleo. "Isso é inaceitável", ressaltou.
No início de junho, Donald Trump novamente criticou a OPEP.
"Os preços do petróleo estão muito altos, a OPEP seguiu de novo pelo velho caminho. Isso não é bom", escreveu o chefe da Casa Branca.
No Congresso, começou a elaboração de um projeto de lei contra cartéis no mercado de petróleo sob o titulo de trabalho de "Nenhum cartel para os produtores e exportadores de petróleo" (NOPEC, na sigla em inglês).
"NOPEC é um exemplo de uso de mecanismos jurídicos contra o inimigo, pois permite que os EUA imponham sua legislação sobre os países membros da OPEP e OPEP + […] Os EUA estão tentando enfraquecer a aliança entre a Rússia e a Arábia Saudita, que é a base da OPEP +, para depois destruir toda estrutura da OPEP e anunciar a liberalização do mercado mundial de energia", sublinhou Kloza.
Na prática isso será assim: primeiro, os EUA impõem sanções a empresas estatais relacionadas à OPEP e OPEP +, e depois contra aqueles que não cessarem a cooperação com essas organizações.
Como resultado, os países da OPEP terão de renunciar o cumprimento das cotas estabelecidas pelo cartel e aumentar a produção. A Arábia Saudita reduziu parcialmente o acordo com a Rússia para estabilizar o mercado, aumentou exploração de petróleo para uma alta de quatro anos e dois meses seguidos, diminuindo os preços de venda de seu petróleo – a primeira sinalização dessa tendência.
"O mercado de petróleo está à beira de forte movimento […] Os preços ainda podem subir nas próximas semanas, mas em novembro o mercado rapidamente cairá para cerca de US$ 50 [R$ 195,6] por barril", afirmou Kloza.
Prejudicando "amigos"
Trump declarou guerra à OPEP no momento mais desfavorável, já que o mercado está à beira de uma crise de superprodução. Depois dos preços do petróleo em 2015 terem caído abaixo de US$ 40 por barril, os investimentos em novos projetos declinaram rapidamente e, até o início de 2017, caíram para a margem mínima desde o inicio do século.
Novos campos já foram comissionados, como o norueguês Goliat, lançado em março. Nessas condições, somente a capacidade de conciliar níveis de produção pode salvar o mercado de um colapso e novos projetos da falência.
Especialistas observam que a queda nos preços do petróleo afetará principalmente empresas ocidentais, que estão ativamente engajadas no desenvolvimento de depósitos em águas profundas. No mesmo nível, rentabilidade da Goliat é estimada em US$ 50,00 (R$ 195,6) por barril. Então, se o plano de Trump para o colapso da OPEP for executado, este projeto, como muitos similares em todo o mundo, será congelado.
Ao mesmo tempo, a indústria de petróleo russa tem uma das maiores reservas de capacidade. Segundo analistas, a maioria das empresas nacionais é capaz de gerar lucros mesmo a US$ 20,00 (R$ 78) por barril.
Não para baixo, mas para cima
No entanto, muitos especialistas têm certeza de que, em novembro, os preços do petróleo não cairão, mas subirão. Tais previsões foram feitas na semana passada pelos grandes fundos de cobertura norte-americanos Andurand Capital e Westbeck Capital.
Se Washington não concordar com a flexibilização, a perda de suprimentos iranianos excederá dois milhões de barris por dia. "Neste caso, os preços mundiais de petróleo podem chegar a US$ 150 (R$ 586,8) por barril até o final do ano", alertam os analistas da Westbeck.
Previamente, o chefe da delegação iraniana para a OPEP, Hossein Kazempour Ardabili, ressaltou que, devido às sanções de Trump, os preços do petróleo subiriam rapidamente para US$ 100 (R$ 391,2) por barril.
Quanto às perspectivas da OPEP, as ações de Riad e Washington serão, sem dúvida, objeto de discussão no comitê ministerial da organização, que se reunirá no início de setembro.
"Em setembro, veremos como o equilíbrio da produção e do consumo será modelado, levando em conta todos os fatores", esclareceu Aleksandr Novak, chefe do Ministério da Energia da Rússia.