Embora as autoridades estadunidenses desmintam a existência de planos de realizar um ataque contra a Síria, muitos especialistas duvidam disso. Segundo eles, o mesmo aconteceu antes dos dois últimos ataques realizados pela coalização internacional liderada pelos EUA.
Segundo o editor-chefe da revista Natsionalnaya Oborona (Defesa Nacional), Igor Korotchenko, em tal situação, quando as declarações dos EUA e da Rússia se contradizem mutuamente, é de priorizar as do Ministério da Defesa russo, cujos dados provêm da inteligência militar.
O presidente da Academia de Problemas Geopolíticos da Rússia, coronel-general aposentado Leonid Ivashov, compartilha essa opinião e considera que as declarações do porta-voz do Ministério da Defesa da Rússia, Igor Konashenkov, sobre a provocação iminente surtiram efeito.
De acordo com Ivashov, o fato de que o Pentágono está se justificando mostra que é provável que o ataque não seja realizado. É certo que os EUA aumentaram a presença de portadores de mísseis de cruzeiro na região e não se sabe ao certo por que eles fizeram isso.
"Os EUA poderiam estar substituindo os mísseis obsoletos que foram usados no ataque anterior, ou poderiam estar se preparando para um ataque contra alvos sírios", explicou.
Aleksandr Domrin, especialista em assuntos estadunidenses, por sua vez, relaciona as últimas ações dos EUA em torno da Síria à próxima cúpula dos líderes da Rússia, Irã e Turquia que será celebrada em setembro.
Segundo ele, toda essa escalada faz parte dos interesses pessoais do presidente dos EUA, Donald Trump, que quer ajudar os congressistas republicanos nas próximas eleições intercalares para o Congresso.
"A política externa em si é aquilo em que Donald Trump está menos interessado. Precisa dela apenas para mostrar que é um grande cara e que os partidários de Trump devem ser eleitos para o Congresso", explicou.
Mas as eleições de meio mandato não são a única razão na política interna dos EUA, que pode levar Donald Trump a intentar um novo ataque contra a Síria, opinou o cientista político Boris Mezhuev.
"Quando Bill Clinton confessou ter mentido sob juramento e ter tido relações sexuais com a senhorita Lewinsky, quase no mesmo dia ele lançou dois ataques contra supostas posições da Al-Qaeda (organização terrorista proibida na Rússia) no Iraque", sublinhou o cientista político.
Naquela época, o plano deu certo, então o fator da guerra como distração poderia funcionar também para Donald Trump, que pode estar interessado em usar essa "ferramenta", acrescentou o analista.
Além disso, com a chegada de John Bolton na assessoria de Segurança Nacional da Casa Branca e Mike Pompeo como secretário de Estado, a política externa de Trump se tornou notavelmente agressiva.
Mezhuev acrescentou que, apesar da existência de uma grande oposição contra o presidente dos EUA, há também um segmento muito influente que o apoia por enxergá-lo capaz de resolver o problema do Irã no interesse de Israel.
No domingo (26), o Ministério da Defesa da Rússia informou que especialistas estrangeiros estão preparando no povoado sírio de Kafer Zaita uma encenação de "ataque químico". A realização deste plano é destinada a funcionar como pretexto para os EUA, Reino Unido e França efetuarem um ataque contra as infraestruturas governamentais da Síria.