O encontro de Montevidéu tem como objetivo definir estratégias para a concretização do acordo comercial com o bloco europeu, cujas negociações se estendem por duas décadas, sem solução aparente.
Em entrevista à Sputnik Brasil, a coordenadora do curso de Economia da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Rio, Michelle Nunes, afirma que os problemas na economia dos maiores países do bloco, aliados à incerteza eleitoral brasileira, inviabilizam um acordo ainda neste ano.
"O Brasil está num cenário de incerteza absurdo. Estamos em ano eleitoral, mas desde o ano passado, após a mudança da presidência, havia a esperança de uma retomada na economia, que não aconteceu. [...] A ideia de parcerias com outros blocos é importantíssima, mas, a curtíssimo prazo, não vamos evoluir, porque temos deveres de casa para resolver", destaca a economista.
Em julho, o presidente Michel Temer se mostrou otimista quanto ao estabelecimento de um acordo de livre comércio entre os blocos ainda este ano:
"Não é improvável que, em setembro, se consiga fechar esse acordo", declarou ele na ocasião.
"Todo contrato requer confiança. Se a minha economia não está estável, que confiança eu passo para esse contrato que eu quero fazer? Esse novo presidente que vai ser eleito vai honrar qualquer contrato que eu fizer agora? A Argentina, do jeito que está a sua economia, vai conseguir honrar o contrato? A curtíssimo prazo, é inviável qualquer passo à frente em negociações desse tipo", ressalta a professora.
Os entraves para o acordo de livre comércio ainda incluem aspectos relativos ao setor automotivo, à propriedade intelectual e, em especial, sobre regras de patentes de medicamentos, barreiras sanitárias, indicações geográficas e serviços marítimos.
Elencado como um dos fatores que dificulta o avanço nas negociações no que tange o Brasil, o processo eleitoral ainda não deixa claro o que o mercado pode esperar em termos de política econômica externa do presidente eleito.
"Eles estão chamando atenção ao que acham que dá voto. Uns falam sobre tributos e outros sobre empregos. Eles acabam não abrindo muito a pauta. (...) Se formos pensar em propostas externas, todos falam que é importante fazer comércio, mas são superficiais nesse tema", avalia a especialista.
Uruguai admite que acordo entre UE e Mercosul está "um pouco travado https://t.co/jwR8m1Jo94 pic.twitter.com/pQNcgWCMuK
— Agência Brasil (@agenciabrasil) 18 de setembro de 2018
Veja abaixo as propostas apresentadas em planos de governo dos candidatos nessa área:
Álvaro Dias
O candidato propõe "10 novos acordos bilaterais e 4 multilaterais até 2022", mas não detalha quais seriam eles.
Cabo Daciolo
Não detalha propostas nessa área.
Ciro Comes
O candidato defende aprofundar o livre comércio dentro do Mercosul e com os demais países sul-americanos "numa teia cada vez mais densa de trocas comerciais, parcerias produtivas e tecnológicas, colaborações em defesa e circulação de estudantes, pesquisadores e ideias". Ciro também propõe o fortalecimento da relação Brasil-EUA e o desenvolvimento e reconstrução da relação Brasil-China.
Geraldo Alckmin
Alckmin propõe a abertura da economia e afirma que fará com que o comércio exterior represente 50% do PIB. Em seu programa de governo, o candidato ainda diz que usará "a nossa diplomacia para firmar acordos comerciais que nos ajudem a expandir os mercados brasileiros no exterior e a reinserir o país na economia global".
Guilherme Boulos
O candidato propõe fortalecer, reestruturar e atualizar os organismos multilaterais criados desde a redemocratização, como o Mercosul, a Unasul e a CELAC. Boulos ainda fará "oposição a acordos com a OCDE e evitar articulações assimétricas e apressadas de comércio internacional". O presidenciável ainda defende a retomada da "agenda Sul-Sul e a diversificação de parcerias com a Ásia e a África para além das relações comerciais".
Henrique Meirelles
Meirelles defende uma política externa de fortalecimento de um Mercosul que privilegie o livre mercado. O candidato afirma que "será uma política externa de mais acordos econômico-comerciais com parceiros de todos os perfis e de todas as partes do mundo. Priorizaremos as negociações em curso, como a do Mercosul com a União Europeia, e abriremos novas frentes.
Jair Bolsonaro
Bolsonaro defende a abertura comercial e propõe a redução de alíquotas de importação e das barreiras não tarifárias, em paralelo com a constituição de novos acordos bilaterais internacionais.
João Amoedo
O candidato do Partido Novo propõe a ampliação dos acordos comerciais em todo o mundo e abertura da economia com redução das tarifas alfandegárias.
João Goulart Filho
O candidato defende a retomada da política externa independente, com prioridade para as relações Sul-Sul. "Para isso, deve ser retomado o processo de integração latino-americana, o fortalecimento das relações com a África, atualmente bastante debilitados, e a consolidação dos BRICS mediante a constituição de suas instituições e estrutura", defende Filho em seu programa.
José Maria Eymael
Eymael propõe a política externa como instrumento de desenvolvimento nacional, incluindo o Brasil nas rotas mundiais do sucesso sócio-econômico.
Fernando Haddad
O candidato do PT propõe a integração das cadeias produtivas regionais, o desenvolvimento da infraestrutura e o fortalecimento de instrumentos de financiamento do desenvolvimento, como Fundo para a Convergência Estrutural do Mercosul – FOCEM e o Banco do Sul. "Nesse contexto, serão priorizados esforços para fortalecer o Mercosul e a União das Nações da Sul-americanas– Unasul e consolidar a construção da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos – CELAC", defende seu plano de governo. O candidato ainda propõe o fortalecimento do BRICS.
Marina Silva
A candidata defende a conclusão das negociações entre Mercosul e União Europeia e com outros parceiros dispostos a uma abertura mutuamente vantajosa. Marina propõe ainda o avanço na relação com a Aliança do Pacifico (Chile, Peru, Colômbia e México) visando um tratado de livre comércio. A candidata da rede define quatro regiões como para a política externa Brasileira: América do Sul, América do Norte, União Europeia e Leste Asiático. Seu programa de governo defende ainda a criação de "um ambiente favorável para que empresas brasileiras participem do processo de transformação produtiva e do desenvolvimento sustentável da África".
Vera Lúcia
Não detalha propostas nessa área.