A dívida pública federal, que inclui os endividamentos do governo no país e no exterior, teve aumento de 14,3% em 2017, chegando a R$ 3,55 trilhões. Trata-se do maior patamar da série histórica, que começou em 2004. No fim de 2015 e de 2016, a dívida estava em R$ 2,79 trilhões e em R$ 3,11 trilhões, respectivamente. A dívida pública subiu R$ 447,15 bilhões no ano passado.
A duas semanas do primeiro turno das eleições, como o tema será tratado pelos candidatos com mais chances de chegar ao segundo turno?
Para a economista Maria Beatriz David, professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), a dívida em si não é exatamente um grande problema para a economia brasileira. O problema, segundo ela, seria a realimentação e o financiamento dessa dívida. A especialista explica que, como essa dívida é essencialmente interna, o país não fica muito exposto às variações do cenário internacional. No entanto, há um déficit público crescente que deve ser visto como motivo de preocupação. Ela acredita que o reequilíbrio das contas públicas será, sem dúvidas, o principal desafio do próximo governo.
De acordo com Maria Beatriz, nem na esquerda nem na direita brasileira, hoje, há um projeto claro para tratar do déficit público.
"Os dois não têm uma clareza sobre o problema. Os dois não estão propondo políticas de longo prazo para resolver isso. Os dois estão escamoteando essa discussão. Então é uma coisa que… eu espero que a população, depois de tomar essa decisão, não se sinta traída", comentou ela em entrevista à Sputnik Brasil, destacando que, se o próximo presidente decidir fazer investimentos sem observar o equilíbrio das contas públicas, ele poderá ser retirado do poder, por conta da Lei de Responsabilidade Fiscal.
Considerando os principais nomes na corrida presidencial, a economista da UERJ afirma que, de um lado, "o candidato do PT fez um programa que não era para ganhar eleição", mas, como surgiu essa chance de ganhar, ele já está considerando a possibilidade de repensar esse programa, tratando-o apenas como um indicativo. Do outro lado, "o candidato mais conservador" apresenta uma visão intervencionista, mas diz que vai fazer uma política liberal.
"Então, não é verdade. Ou ele vai continuar com o projeto dele de visão de mundo, que é uma política mais intervencionista, ou ele vai optar por uma política liberal. Então, quem está votando nele não está votando pela política liberal. Quem está votando nele está votando pela segurança. Então, depois, se ele fizer uma política completamente liberal, não são esses os votos que o credenciaram."
Também em entrevista à Sputnik, o secretário-executivo da ONG Contas Abertas, Gil Castello Branco, afirmou que os discursos defendidos pelos candidatos à presidência da República até aqui possuem características bastante variadas, com um deles propondo até que essa dívida não seja paga. No entanto, assim como a especialista da UERJ, ele acredita que falta profundidade nas propostas apresentadas.
"Não se sabe exatamente o que os candidatos pretendem fazer porque não há nos programas de governo detalhes suficientemente amplos para que se possa imaginar o que realmente cada um pensa", afirma o economista. "Até porque, no Brasil, qualquer opinião que seja impopular tira votos".
Segundo Gil, o reequilíbrio das contas públicas, tão necessário para evitar que as dívidas continuem crescendo, deve se dar por crescimento da receita ou corte de despesas, mas, dado o cenário em que o país se encontra, ambas as alternativos teriam caráter impopular.
"Mesmo entre aquelas candidaturas viáveis, sob o ponto de vista das próximas eleições, de quem será o presidente no dia 28 de outubro, eu acho que, ainda assim, as informações que eles divulgam sobre o que pretendem fazer são vagas."