A campanha para o segundo turno das eleições presidenciais começa nesta segunda-feira, e os dois candidatos vencedores do primeiro turno enfrentam o desafio de aumentar o número de seus eleitores e diminuir o índice de sua rejeição pelo eleitorado.
O que muda em termos de campanha no segundo turno? Os candidatos vão continuar com suas táticas de desconstruir o adversário, dando menor espaço à exposição de seus planos de governo?
Sputnik Brasil conversou sobre o tema com Ricardo Ismael, mestre em ciência política e professor da PUC/Rio. Para ele, existe uma demanda por propostas e que o primeiro turno deixou a desejar.
Agora, com tempo eleitoral igual, pode ficar mais claro o que cada um pretende fazer sobre a crise econômica que já dura desde final de 2014, explicou o professor. Além disso, seria importante discutir a reforma tributária e a reforma da previdência.
"Existe espaço e tempo para apresentar soluções aos problemas que estão aí na área de segurança pública, na área previdenciária, na área das contas públicas, social, saúde, moradia, habitação, saneamento básico. A agenda é conhecida, mas é preciso falar de soluções", disse ele.
Para ele, "isso ajudaria o eleitor e a eleitora a tomar uma decisão nesta segunda rodada".
"Com o fracasso do centro político, que não conseguiu colocar um candidato no segundo turno, temos dois extremos se enfrentando no processo eleitoral. Por isso há um risco de que a propaganda negativa e o enfrentamento possam prevalecer", alertou.
Segundo Ricardo Ismael, tradicionalmente, o candidato que está atrás nas pesquisas deve bater no líder. O que provoca uma reação, uma resposta. Ou seja, existe um risco de polarização ainda maior, que empobrecerá o debate a acabará aumentando o número de abstenções, de brancos e de nulos.
E é justamente esse eleitor que precisa ser conquistado.
Esse eleitor, em geral, é de centro. Por isso, segundo o especialista, o acirramento das tensões pode afastar ele.
Para o professor da PUC, as estratégias de campanha dos dois candidatos devem, por enquanto, seguir o curso do primeiro turno.
"Jair Bolsonaro tentou ocupar o espaço do anti-petismo e cresceu muito nos últimos anos. Principalmente depois do segundo turno das eleições de 2014", e deve continuar nessa linha, disse o entrevistado.
A campanha de Haddad, por outro lado, deve seguir com a estratégia de capitalizar os votos do ex-presidente Lula, o que deu muito certo no Nordeste.
"Nordeste é o grande reduto do Lulismo e do próprio PT. A partir dessa estratégia de fazer alianças com PSB e com PCdoB o PT conseguiu uma votação impressionante no Nordeste, inclusive garantindo ao partido uma bancada [no Congresso Nacional]" e possibilitou o segundo turno, disse o analista.
Portanto, o PT deve associar Bolsonaro ao retrocesso na área dos direitos, enquanto Bolsonaro deve continuar empunhando a bandeira anti-petista.
Durante a primeira semana, antes dos resultados das pesquisas, a tendência será manter essa linha, disse o Ricardo Ismael, para quem, independente do resultado, "o vencedor vai precisar pacificar o país".