Desdolarização da economia russa: mito ou realidade inevitável?

© Sputnik / Vladimir SergeevCarteira com uma nota de dólar por dentro (foto referencial)
Carteira com uma nota de dólar por dentro (foto referencial) - Sputnik Brasil
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No início do mês corrente, o Ministério das Finanças da Rússia anunciou o programa de desdolarização da economia nacional, o que desencadeou uma ampla discussão nos círculos intelectuais e jornalísticos. Um colunista da Sputnik analisa o fenômeno em seu artigo especial sobre o tema.

Segundo escreve Ivan Danilov, autor do blogue Crimson Alter, quanto mais frequentes são as discussões sobre desdolarização no Kremlin, no governo russo, no Banco Central e na Duma de Estado, mais ativa se torna a "campanha midiática" que visa convencer os russos comuns de que a desistência do dólar é impossível e seria extremamente prejudicial para suas poupanças.

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"A propaganda a favor do uso da moeda estadunidense e do aumento da vulnerabilidade da economia russa perante as medidas restritivas de Washington envolve veículos de comunicação, economistas, formadores de opinião pública e blogueiros famosos", opina o autor, acrescentando que um grande esforço é feito para intimidar os cidadãos russos com um futuro "medieval" sem a presença do dólar na vida deles.

Nesse contexto, acredita ele, "basta olhar" para as opiniões dos especialistas ocidentais e não dos "americanófilos" russos sobre a existente economia internacional baseada no dólar. Assim, o ex-ministro do Comércio do Reino Unido, lendário gestor de operações com ativos do banco Goldman Sachs, bem como presidente do famoso think tank britânico Chatham House e financista Jim O'Neill disse ao canal estadunidense CNBC que o dólar desempenha um papel desproporcionalmente grande no sistema financeiro global e qualificou o fato como "um problema".

Como exemplo da sua ideia o economista indicou o fato da parcela da economia norte-americana no PIB mundial ter se reduzido a menos de 20%, o que não corresponde nada ao papel dominante que o dólar mantém no comércio internacional.

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Outra figura famosa, o presidente da Comissão Europeia Jean-Claude Juncker, qualificou como "absurdo" o fato de a Europa pagar por 80% das suas exportações de combustíveis em dólares, dado que apenas 2% das entregas cabem aos EUA.

A declaração do alto responsável oficial tem que ser considerada com atenção especial inclusive porque ele tem um conhecimento profundo de economia, tendo sido ministro das Finanças de Luxemburgo por mais de 10 anos, lembra Danilov.

"Ele sabe do que fala, e quando ele fala que a moeda europeia deve necessariamente virar 'o rosto e a ferramenta da nova Europa soberana' essas palavras estão vinculadas a intenções realmente muito sérias", escreve o autor.

O principal argumento da narrativa daqueles que se manifestam contra a desistência do dólar, diz Danilov, é a ideia de que os EUA são a "força hegemônica" no mundo e isso logicamente significaria que o mundo deve usar a moeda deles.

Entretanto, o autor indica dois problemas "fundamentais" nesse paradigma.

"Primeiro, a hegemonia norte-americana em grande parte (claro que não em tudo) depende precisamente do estatuto do dólar. Segundo, a própria certeza de que está tudo bem com a hegemonia norte-americana é mais própria de uma camada bem pequena de americanófilos russos", opina.

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Enquanto isso, especialistas independentes, inclusive ocidentais, todos advertem sobre os riscos do sistema criado. Assim, o cientista político Ian Bremmer recentemente afirmou no decorrer de um fórum financeiro:

"Esta recessão geopolítica na verdade é algo bem simples. Se trata do fim da ordem mundial liderada pelos EUA. E nós ainda não sabemos o que substituirá essa ordem mundial."

Isso, opina Danilov, prova que não é o Kremlin que está divulgando a ideia sobre o fim do mundo unipolar liderado por Washington, mas isso é afirmado pelos maiores especialistas ocidentais.

"No contexto de ruptura do sistema existente se agarrar à moeda de uma força hegemônica que está deixando de ser não é apenas insensato, mas um erro quase criminoso contra o futuro do nosso país [Rússia], que tem desempenhado (e ainda desempenhará) um dos papéis-chave na desmontagem do 'mundo à americana'", sublinha o autor.

De acordo com ele, o domínio do dólar certamente "não será liquidado amanhã", mas esse processo protegerá melhor a Rússia da persistente política de sanções norte-americana.

"Uma firmeza cautelosa e calculadora é o melhor caminho para o sucesso, e este princípio se adapta muito bem à questão da desdolarização do sistema financeiro russo e internacional", conclui Danilov.

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