Leia tenebrosas confissões da jornalista que viveu 'inferno' na Síria

© Sputnik / Ekaterina Yanson Correspondente militar síria Yara Saleh
Correspondente militar síria Yara Saleh - Sputnik Brasil
Nos siga no
Ao longo dos últimos anos, o conflito na Síria tem se tornado palco de guerras midiáticas de toda a espécie. Em uma reportagem especial, a Sputnik conta a experiência de uma jornalista síria que esteve em pleno campo de batalha.

"Sou a primeira jornalista síria que teve que vestir um colete à prova de bala e um capacete, fui detida e tomada como refém. Além disso, sou uma das primeiras jornalistas sírias feridas ao cumprir seu dever profissional", diz Yara Saleh, de 33 anos, à Sputnik França.

Ministro da Defesa russo Sergei Shoigu - Sputnik Brasil
Com números impressionantes, ministro russo revela como Daesh foi arrasado na Síria
Ela, sendo âncora do canal estatal Al-Ikhbariya, chegou à zona de confrontos passados 8 meses após o início do conflito, que irrompeu em março de 2011, tendo acompanhado as tropas governamentais ao longo de um ano e meio.

Ao falar sobre o porquê de escolher tal profissão bastante invulgar para uma mulher muçulmana, Yara diz que, no início do seu caminho, ela e sua amiga Yara Abbas não refletiam muito sobre a própria missão de correspondentes militares. Ou seja, como jornalistas, elas deviam cobrir a entrada de tropas sírias nas cidades, acompanhar os observadores árabes e mostrar aos sírios e ao mundo as evidências apresentadas pelos habitantes locais nas regiões invadidas pelos grupos armados. Yara lhes chama exclusivamente de "terroristas".

"A guerra se vinha agudizando, as tropas assaltavam as cidades, havia muita desinformação sobre a situação nos territórios controlados [pelas tropas governamentais]. Atribuíam os roubos, as destruições, a violência e os assassinatos ao exército. O Exército sírio sempre era o culpado e a população civil sempre era a vítima. Aí, começamos a acompanhar o exército para registrar sua entrada em cada cidade, para transmitir reportagens do local desde o início", conta a jornalista sobre os primeiros passos na sua carreira.

De acordo com ela, foi apenas em 2013 que o mundo começou a reconhecer que os que tinham sido retratados como rebeldes pacíficos na verdade eram grupos armados.
Desde o ano de 2011, ela junto com sua equipe tem tentado provar que a parte inimiga tinha armas, e que estas não eram destinadas à defesa, mas à ofensiva.

As regiões de Damasco, Deraa, Idlib e Deir ez-Zor, bem como as províncias de Homs, Hama e Latakia foram a rota da jornalista percorrida ao longo de dois anos. Yara com seus companheiros foram muitas vezes alvos de ataque por parte de agrupamentos armados, e, ao longo destes longos meses, ela diz ter visto morte, destruição, medo entre a população local nas regiões invadidas pelos que se auto-designavam como Exército Livre da Síria.

Militares sírios se preparando para cruzar o rio Eufrates na zona de Deir ez-Zor - Sputnik Brasil
Putin: terroristas do Daesh na Síria capturaram 700 reféns e já executaram 10
É com essa organização que se relaciona uma das páginas mais negras da sua carreira. No verão de 2012, o seu grupo de quatro pessoas foi tomado refém pelo Exército Livre da Síria perto da aldeia de Al-Tall, nos arredores de Damasco. Passados seis dias, três deles foram libertados, enquanto um assistente de cameraman acabou sendo morto com 60 tiros.

Yara conta a história terrível sem poder abafar as lágrimas. Segundo ela, os membros do grupo armado, entre os quais estava um saudita, tinham interesse especial em sua religião.

"Eles me fizeram vestir um hijab. Aqueles que apelavam à liberdade para a Síria […] me fizeram rezar. Eles ainda têm um segundo nome — Daesh [organização terrorista proibida na Rússia e em vários outros países], pois não diferem nada dele", desabafa.

Durante estes seis dias tenebrosos, relembra a jornalista, ela viveu "terror, humilhação, tentativas de estupro" e até promessas de "a desmembrar".

Passados 15 dias após a libertação, Yara voltou ao trabalho. Posteriormente, ela descobriu a morte da sua colega Yara Abbas, viu seu colega sendo ferido por um estilhaço de munição e, dois anos e meio depois, decidiu deixar a profissão.

"Acumulei um sentimento de culpa pelo destino dos meus colegas. Provavelmente, foi por causa da minha excessiva temeridade que os meus colegas me seguiram, me senti culpada. Depois, a minha mãe me pediu para largar esse trabalho, ela também estava muito preocupada. Mas nossa causa continua viva e uma nova geração de jornalistas nos sucedeu", confessa ela.

Feed de notícias
0
Para participar da discussão
inicie sessão ou cadastre-se
loader
Bate-papos
Заголовок открываемого материала