Na ciência política estadunidense existe o termo "armamentização do dólar" (weaponization of the dollar, em inglês). As sanções que ameaçam proibir a realização de transações em dólares é um exemplo de uso desse tipo de arma. Entretanto, segundo o analista, a arma mais eficaz é o chamado "aspirador de dólares", que hoje em dia está à beira do fracasso.
O funcionamento desse "aspirador de dólares" é bastante simples. Quando o mundo atravessa uma turbulência econômica ou quando nos EUA elevam as taxas de juro, os capitais de todo o mundo rumam aos EUA, impulsionados pelo medo e desejo de ganhar mais dos investidores, desvalorizando ao mesmo tempo o valor das divisas dos países emergentes e criando nesses países um déficit de investimentos.
Isso significa que, para estimular o mundo a investir na sua economia, Washington tinha apenas que realizar um pequeno choque geopolítico ou elevar as taxas de rendimento de seus títulos do Tesouro.
Entretanto, hoje em dia os especialistas indicam que esse "aspirador de dólares" se quebrou: os investidores estrangeiros compram cada vez menos títulos da dívida pública dos EUA e, ao mesmo tempo, no mundo se observa uma tendência de desdolarização que poderia pôr fim à hegemonia do dólar.
Enquanto a demanda global por títulos públicos dos EUA está em queda porque vários países (incluindo a Rússia e a China) reduzem seus investimentos na dívida dos EUA, Washington precisa emitir mais títulos para financiar os projetos lançados pela administração de Donald Trump. Surgiu um problema importante: quem vai comprar esses novos títulos?
O aumento de rendimento dos títulos do Tesouro dos EUA ocorre devido ao aumento do risco desses títulos, porque os investidores estão preocupados se o dólar conseguirá manter seu valor e seu papel no mercado global.
Enquanto o próprio Donald Trump declarou que o principal responsável pelas vulnerabilidades do mercado financeiro dos EUA é a Reserva Federal (banco central dos EUA), que está aumentando gradualmente a taxa de juro, alguns analistas apontam que os problemas do estado atual do sistema financeiro são mais complicados.
"Vá mais adiante, responsabilize Powell [Jerome Powell, presidente da Reserva Federal]. Não diga a ninguém que as compras dos títulos do Tesouro [dos EUA] foram reduzidas para metade e mantenha em segredo que a cota-parte do dólar nas reservas internacionais globais caiu para seu ponto mínimo nos últimos cinco anos, até 62,5%. O papel do dólar como a moeda de reserva está a dar as últimas", escreveu o famoso financista David Rosenberg na sua conta no Twitter, comentando as acusações de Trump contra a Reserva Federal.
Entretanto, se eles canalizarem seus fundos para a compra de títulos públicos, os investidores não terão dinheiro para investir nas empresas privadas, que nos últimos anos de taxas de juro extremamente baixas se acostumaram a viver a crédito. Nesse caso, várias empresas, tais como Tesla e Netflix, colapsarão e o efeito dominó vai abalar toda a economia dos EUA.