De acordo com a publicação, o magistrado responsável pela Operação Lava Jato iria divulgar nas próximas horas os termos da proposta feita por Bolsonaro, e aceita por ele, o que aconteceu cerca de 40 minutos após o fim do encontro (leia a íntegra do comunicado de Moro ao final da matéria). Mais tarde, o próprio presidente eleito confirmou a notícia.
O juiz federal Sérgio Moro aceitou nosso convite para o Ministério da Justiça e Segurança Pública. Sua agenda anti-corrupção, anti-crime organizado, bem como respeito à Constituição e às leis será o nosso norte!
— Jair M. Bolsonaro (@jairbolsonaro) 1 de novembro de 2018
Moro desembarcou no Rio de Janeiro no início da manhã, vindo de Curitiba em um voo de carreira e sem seguranças. Por volta das 9h ele chegou à casa de Bolsonaro, na Barra da Tijuca, e o encontro durou cerca de 1h30.
O juiz federal não falou com a imprensa na saída do encontro com Bolsonaro. Mais cedo, em entrevista ao G1, Moro disse que havia uma chance de aceitar o convite do presidente eleito, mas que tudo dependeria da convergência de ideias.
"Se houver a possibilidade de uma implementação dessa agenda, convergência de ideias, como isso ser feito, então há uma possibilidade. Mas como disse, é tudo muito prematuro", declarou o juiz federal, durante o voo entre Curitiba e o Rio.
A possibilidade de implementar uma ampla agenda anticorrupção, com um superministério e a ampliação de órgãos de combate à corrupção, como a Polícia Federal, seriam algumas das sinalizações de Bolsonaro que convenceram Moro a assumir o posto, segundo o jornal.
Assim que confirmado, o juiz federal será o quinto ministro definido para o quadro ministerial de Bolsonaro. O ex-capitão do Exército já confirmou os ministros Paulo Guedes (Ministério da Economia), Onyx Lorenzoni (Casa Civil), Alberto Heleno (Defesa) e Marcos Pontes (Ciência e Tecnologia).
A princípio, os processos que estavam com Moro serão assumidos pela juíza substituta Gabriela Hardt. Contudo, conforme informado pelo jornal O Globo, um processo para uma reconfiguração da 13ª Vara Federal de Curitiba terá início, e pode marcar o fim da Lava Jato em Curitiba.
Nova opinião e olho no STF
Em uma reunião da Comissão Especial da Câmara dos Deputados que discutia medidas de combate à corrupção, em agosto de 2016, Moro descartou qualquer chance de deixar a magistratura e, à época, concorrer para algum cargo político.
"Nenhuma chance. Sou juiz profissional, minha carreira é da magistratura e não pretendo sair", declarou o juiz federal, ainda no calor do processo de impeachment da então presidente Dilma Rousseff (PT).
Em outubro de 2017, Moro voltou a negar qualquer chance de ser candidato à Presidência da República em uma entrevista à Globonews, indicando que pretendia seguir a sua trajetória no Judiciário.
Contudo, ele se negou a descartar a possibilidade de assumir um cargo em um eventual governo do presidenciável Álvaro Dias (Podemos), que afirmava que o convidaria para assumir o Ministério da Justiça, caso fosse eleito.
Ventilada agora por Bolsonaro, a decisão de Moro de deixar a carreira e assumir um posto no novo governo poderia ter alguma ligação com uma das 2 vagas que se abrirão no Supremo Tribunal Federal (STF) ao longo dos 4 anos da era Bolsonaro no Palácio do Planalto.
O mais recente ministro do Supremo, Alexandre de Moraes, era ministro da Justiça do presidente Michel Temer (MDB) antes de ser indicado à cadeira que pertencia ao ministro Teori Zavascki, morto em um acidente aéreo.
Leia a nota oficial de Sérgio Moro:
Fui convidado pelo Sr. Presidente eleito para ser nomeado Ministro da Justiça e da Segurança Pública na próxima gestão. Após reunião pessoal, na qual foram discutidas políticas para a pasta, aceitei o honrado convite. Fiz com certo pesar, pois terei que abandonar 22 anos de magistratura. No entanto, a perspectiva de implementar uma forte agenda anticorrupção e anticrime organizado, com respeito à Constituição, à lei e aos direitos, levaram-me a tomar esta decisão. Na prática, significa consolidar os avanços contra o crime e a corrupção dos últimos anos e afastar riscos de retrocessos por um bem maior. A Operação Lava Jato seguirá em Curitiba com os valorosos juízes locais. De todo modo, para evitar controvérsias desnecessárias, devo desde logo afastar-me de novas audiências. Na próxima semana, concederei entrevista coletiva com maiores detalhes. Curitiba, 01 de novembro de 2018.
Sergio Fernando Moro