No dia seguinte às eleições presidenciais no Brasil, um dos principais veículos da imprensa estatal chinesa, o portal China Daily, publicou um editorial chamando Bolsonaro de "Trump Tropical" e apontando que o presidente eleito mantém uma postura similar à do presidente dos Estados Unidos.
"Bolsonaro soou pouco amigável com a China durante a campanha. Ele afirmou que a China é um predador que pretende dominar setores chave da economia brasileira", lembrou o editorial.
O texto ainda chamou atenção para o fato de que a China não acredita que as declarações de campanha devam ser tratadas com pouca seriedade.
"Nós não acreditamos na suposição popular de que as promessas feitas durante a campanha são apenas para o processo eleitoral. Ou que Bolsonaro, o presidente, irá naturalmente deixar de lado as palavras mais extremas do Bolsonaro candidato", acrescentou.
O editorial ainda apontou que espera que Bolsonaro não concretize sua posição e que leve em consideração que as economias de China e Brasil são complementares, além de serem grandes parceiros comerciais.
É exatamente isso o que lembra Roberto Fendt, secretário-executivo do Conselho Empresarial Brasil-China, em entrevista à Sputnik Brasil.
"A China é o nosso principal parceiro tanto na importação quanto na exportação […]. É um parceiro importante. E por ser o maior, obviamente torna-se importante em si. Mas também é muito importante porque a China hoje em matéria de fluxo de investimento anual é o maior investidor estrangeiro no país", ressalta Fendt.
Roberto Fendt lembrou que há um volume importante de empresas chinesas abrindo atividades dentro do Brasil, com um setor reunindo maior volume de investimento. "No período entre 2007 e 2017, mais de 100 empresas se instalaram no Brasil. Essas empresas trouxeram 157 projetos que anunciaram ou já completaram […]. O grosso do investimento está no setor elétrico, no setor de geração e produção de energia em geral. Então os investimentos nessa área são maiores. O número de projetos é menor mas o volume de investimento é maior", disse.
Bolsonaro volta atrás e tenta diminuir desconfiança de empresários chineses
Já Roberto Fendt acredita que depois da reunião na segunda-feira (5) entre Jair Bolsonaro e o embaixador da China no Brasil, Li Jhinzang, a desconfiança criada em torno do presidente eleito possa diminuir.
Apesar de após a reunião com Bolsonaro o embaixador chinês ter optado por não dar declarações, Fendt ressalta que o presidente eleito enfatizou a importância da China e que pretende que o Brasil amplie sua cooperação com os chineses.
"Eu acho que isso é muito importante porque havia rumores de todo tipo de que o presidente eleito teria objeções à China de várias naturezas", afirmou Fendt, que acrescentou: "Eu acho que os ruídos, como é natural no embate de uma campanha eleitoral, foram exageradamente ampliados".
Fendt ainda afirmou na entrevista à Sputnik Brasil que acredita que as declarações mais recentes de Bolsonaro são uma amostra de que o presidente eleito pretende manter as portas abertas para a China. "Isto é, uma maior cooperação em diversos campos e a manutenção dos fluxos de comércio e investimento entre os dois países", afirmou.
China deve ampliar abertura e manter-se contra maré protecionista
Além disso, ele lembra que os chineses pretendem continuar a abertura da economia do país comunista, apoiando ainda mais o processo de globalização, mesmo com uma onda de protecionismo liderada pelos Estados Unidos de Donald Trump.
"Isso é muito importante porque nós estamos diante de uma onda protecionista em muitas partes do mundo. É importante que a segunda maior economia do mundo se abra para terceiros países", concluiu.