"Com todo o respeito que eu tenho pelos açougueiros do Brasil, os açougueiros do Brasil poderão se inscrever [no programa Mais Médicos] que serão aprovados neste novo exame de Revalida proposto pelo ministro [da Saúde Alexandre] Padilha", declarou o então deputado federal, em discurso na Câmara.
Bolsonaro foi mais longe e criticou o fato de que cada médico cubano poderia trazer todos os seus dependentes – "podemos ter 70 mil cubanos aqui dentro", avaliou –, o que representaria, na opinião do então parlamentar, um "perigo para a nossa democracia".
"Essa questão dos cubanos é um crime. Eles são formados 'nas coxas'", afirmou Bolsonaro, questionando a qualificação dos profissionais que poderiam ser autorizados pelo governo de Havana para vir ao Brasil, a fim de compor o programa Mais Médicos.
No mesmo discurso na Câmara, Bolsonaro avaliou que a presença de cubanos no país poderia criar "centenas de Araguaias no país", referindo-se à Guerrilha do Araguaia, movimento no interior do Norte brasileiro no início dos anos 1970 que foi massacrado pela ditadura militar (os corpos da maioria dos militantes jamais foram encontrados).
"Só aceitaria esta medida provisória se viesse junto o Fidel Castro [líder da Revolução Cubana] para acabar com a palhaçada da presidente Dilma Rousseff e ela assumir o comando desse país. Daí sim estaria coerente com essa medida provisória", completou Bolsonaro.
Na semana passada, o governo cubano anunciou que deixaria o Mais Médicos em razão de demandas apresentadas pelo governo Bolsonaro, que assume a Presidência brasileira em janeiro de 2019.
Em suas declarações sobre o assunto, Bolsonaro afirmou que os médicos cubanos fazem um "trabalho análogo à escravidão", afirmando que a culpa é de Havana pela não-continuidade dos profissionais da ilha caribenha no programa brasileiro.
O Ministério da Saúde promete iniciar ainda este mês um processo de substituição dos 8.332 médicos cubanos que são parte do Mais Médicos. Segundo dados da pasta, 1.600 cidades brasileiras são atendidas somente por profissionais da ilha – em geral, localidades no interior em que não se apresentam médicos brasileiros para assumirem as posições abertas.
Os dados também mostram que em mais de 70% dos 4.058 municípios atendidos pelo programa possuem pelo menos um médico formado em Cuba.