De acordo com o autor Aleksandr Lesnykh, os primeiros resultados do anunciado rumo em direção à desdolarização superaram todas as expectativas — já no início de novembro foi revelado que os sistemas de defesa antiaérea S-400 Triumph seriam comprados pela Índia em moeda russa, com um valor total do contrato de aproximadamente 331 bilhões de rublos (mais de 19 bilhões de reais).
"Não temos o objetivo de abandonar o dólar, é o dólar que está nos deixando. E aqueles que tomam as respetivas decisões já não estão dando um tiro no seu pé, mas um pouco mais acima, já que tal instabilidade nos pagamentos em dólares causa em muitas economias mundiais o desejo de encontrar moedas de reserva alternativas e de criar sistemas de pagamento independentes do dólar", disse ontem (28) o presidente russo Vladimir Putin em relação ao tema.
Nesse contexto, vale ressaltar o reforço cada vez maior dos laços russo-indianos, que devem atingir o patamar de 11 bilhões de dólares (mais de 42 bilhões de reais) nos finais do ano corrente, com engajamento de todo o tipo de projetos — em infraestruturas, agricultura, logística e digitalização da economia. Assim, até o ano de 2025 o comércio bilateral deve crescer até 30 bilhões de dólares (mais de 115 bilhões de reais).
Outra "frente" que a Rússia usa na sua luta contra a dependência do dólar é, surpreendentemente, a Europa. Em primeiro lugar, devido ao risco de novas sanções estadunidenses capazes de limitar as transações em dólares para os bancos estatais russos, o que, por sua vez, pode paralisar os pagamentos de contratos internacionais do país.
Além disso, a mudança do paradigma comportamental no setor financeiro significa que a tendência de rejeição do dólar vai somente aumentar, acredita o autor Aleksandr Lesnykh.
A desdolarização acontece não apenas entre as empresas comerciais, mas também na área de investimentos, inclusive devido à política monetária do Sistema de Reserva Federal, que neste ano aumentou a taxa de juros já por três vezes. Em outras palavras, o dólar está ficando cada vez mais caro, virando menos atrativo para as transações, o que pode ser observado no fato de diferentes instituições financeiras russas terem começado a colocar à venda eurobonds e encontrado compradores entre os países da Europa.