Cabul não estabelecerá condições prévias para negociações diretas de paz com o Talibã, afirmou Ehsan Taheri, porta-voz do Conselho de Alta Paz do país, à Sputnik em uma entrevista. Anteriormente, o governo exigiu que o movimento insurgente abrisse mão das armas e respeitasse a Constituição, mas esse não é o caso agora.
"Hoje em dia, nós — o governo e o Alto Conselho de Paz — declaramos que não há pré-requisitos para o início das negociações", declarou Taheri.
Estabelecido em 2010 pelo então presidente afegão Hamid Karzai, o Alto Conselho de Paz é um órgão encarregado de negociar a paz com os talibãs.
As tão esperadas negociações de paz podem começar este ano ou no próximo ano. Há um "desejo crescente" entre os comandantes do Talibã de participar das negociações "sem intermediários", segundo o funcionário.
Portanto, Cabul está aberto para discutir "qualquer questão crucial para o futuro do Afeganistão", disse o funcionário. Não há "problemas" para o governo e o Talibã falarem sobre mudanças na Constituição do país, porque as disposições permitem fazer emendas.
Agora, cabe aos talibãs responder ao gesto de paz do Alto Conselho de Paz e confirmar se estão prontos para negociações diretas, observou Taheri.
O movimento militante rejeitou por muito tempo as ofertas de negociações do governo, dizendo que eles só lidarão com os EUA. Enquanto isso, eles enviaram emissários para se reunir com funcionários do governo afegão em Moscou no início de novembro.
As conversas em Moscou marcam a primeira vez que o Talibã apareceu publicamente na arena internacional desde que foram retirados do poder no Afeganistão após a invasão liderada pelos EUA em 2001. O encontro, mediado por diplomatas russos, ajudou a abrir caminho para um futuro diálogo entre Cabul e o Talibã, comentou Taheri.
"A atmosfera foi muito amigável no final da conferência", pontuou, acrescentando que a delegação de Cabul se sentia à vontade diante dos oficiais do Talibã. "As discussões continuavam mesmo durante os coffee breaks […] não havia negatividade".
Tem havido atividade diplomática discreta em torno do Afeganistão. Nos últimos meses, o Talibã teria enviado delegações oficiais para o vizinho Uzbequistão, e também conversou com diplomatas dos EUA no Qatar, onde a ala política dos militantes tem um escritório de ligação não oficial.