Em uma reunião com correspondentes estrangeiros no Palácio do Planalto, em Brasília, Temer disse que os casos contra eles não têm mérito, apesar de, segundo ele, terem impedido o seu governo de realizar reformas importantes, tais a da Previdência.
"Eu estou calmo. Não estou preocupado, no mínimo", declarou Temer, que esperava que os casos fossem descartados.
Enquanto no cargo, Temer tem imunidade parcial, graças à qual ele evitou enfrentar julgamentos criminais. Em duas ocasiões, a Câmara dos Deputados, órgão que examina as questões que envolvem o presidente, negou que Temer foi processado porque as acusações contra ele pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot.
No entanto, quando Temer, de 78 anos, deixa a Presidência, os casos vão para o sistema judicial ordinário, na primeira instância.
Nos últimos quatro anos, muitos empresários e políticos, incluindo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), foram condenados e presos no meio da gigantesca investigação de corrupção conhecida como Lava Jato. Os processos contra Temer estão relacionados a essa investigação, que se concentrou em empresas de construção que pagavam grandes somas de dinheiro a políticos em troca de contratos de obras públicas a preços inflacionados.
Especialistas legais consideram que os casos contra Temer têm sustentação e continuarão seu curso. Nas últimas semanas, vários meios de comunicação informaram que o próximo governo do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) poderia conceder a Temer alguma embaixada.
Essa nova posição beneficiaria Temer com a mesma imunidade parcial concedida aos legisladores federais, membros do gabinete e outros funcionários de alto escalão. A Constituição prevê que apenas a mais alta corte do país, o Supremo Tribunal Federal (STF), pode autorizar as acusações ou prosseguir para julgar os membros individuais da equipe, que na prática imprime lentamente no início de um julgamento.
Entretanto, atribuir Temer a uma embaixada poderia ser problemático para Bolsonaro, que prometeu durante sua campanha "tolerância zero" à corrupção.
Também na quinta-feira, Temer destacou "não deixará" de ser ativo e planeja tirar um tempo para si. No entanto, se recusou a falar sobre detalhes, brincando que não tem mais de 50 anos de idade.
Temer, um político de carreira famoso por sua capacidade de promover iniciativas no Congresso, foi vice-presidente quando a presidente Dilma Roussef (PT) foi alvo de impeachment em 2016. Quando assumiu a presidência, Temer se apresentou como um reformista disposto a tirar a maior nação da América Latina de sua pior recessão em décadas.
Apesar de seu governo não estar livre de escândalos — devido a que vários ministros tiveram que renunciar diante de denúncias de corrupção nas primeiras semanas —, Temer conseguiu fazer o Brasil avançar em muitas frentes. Uma importante reforma na legislação trabalhista foi aprovada e em 2017 o produto interno bruto cresceu 1% após uma contração de 4% em cada um dos dois anos anteriores.
"Acho que vou ser lembrado como alguém que, pelo menos, tentou colocar o Brasil no caminho certo", disse Temer. "Também serei lembrado como alguém que não se importa com o populismo. Qualquer um preocupado com populismo não teria feito o que fiz", continuou, em uma alusão às suas propostas impopulares para melhorar as finanças do Estado cortando os benefícios dos empregados e o sistema de pensões.
Temer havia dito este ano que poderia buscar a reeleição, apesar de seus baixos índices de aprovação — menos de 10% —, a maior dentre todos os presidentes que estiveram no cargo. No entanto, os escândalos de corrupção contra ele não só tornaram essa reeleição impossível e frustraram grande parte de sua agenda, mas também ameaçaram colocá-lo atrás das grades.
No ano passado, Janot denunciou Temer duas vezes em casos relacionados à corrupção e obstrução da Justiça. A Polícia Federal também o investiga em um terceiro caso, no qual ele é acusado de usar subornos para financiar reformas em uma propriedade familiar.