De acordo com os mesmos analistas, em última instância, a ideia é desacreditar as investigações, mas o resultado da votação e os desenvolvimentos futuros em torno de possíveis acusações são mais difíceis de prever.
Na segunda-feira, os líderes da coalizão governista de Israel decidiram antecipar as eleições parlamentares de novembro para 9 de abril de 2019, com a atual legislatura do Knesset sendo dissolvida. Netanyahu disse que estava confiante de que venceria as eleições antecipadas e que a maioria do eleitorado israelense concordou com a agenda de seu governo.
O anúncio veio na sequência da renúncia de novembro do ministro da Defesa de Israel, Avigdor Lieberman, e da retirada do partido de direita Yisrael Beiteinu da coalizão governista pela decisão do gabinete de aceitar um cessar-fogo que põe fim a recentes hostilidades contra militantes palestinos na Faixa de Gaza. A retirada não privou Netanyahu da maioria parlamentar, mas reduziu a coalizão governista a 61 assentos no Parlamento de 120 assentos.
Enquanto isso, Netanyahu e sua esposa, Sarah, estão envolvidos no caso de corrupção de Bezeq-Walla, também conhecido como Caso 4000. Eles são acusados de promover os interesses da Bezeq, a maior provedora de telecomunicações do país, em troca da cobertura favorável de Netanyahu pelo popular site de notícias Walla, que é controlado pela empresa.
O primeiro-ministro israelense também foi suspeito de obter presentes caros dos círculos de negócios (Caso 1000) e tentar chegar a um acordo com a liderança do jornal Yedioth Ahronoth (Caso 2000). No entanto, Netanyahu refutou todas as acusações, descartando-as como uma campanha de difamação orquestrada pela mídia.
Razões para eleição precoce
O governo israelense supostamente decidiu realizar uma eleição geral antecipada devido a divergências sobre um novo projeto de conscrição militar. A controversa legislação diz respeito à questão há muito debatida de recrutar estudantes do seminário ortodoxo (yeshiva), que estão isentos do serviço militar obrigatório sob as leis atuais.
Moran Stern, professor adjunto do Programa de Civilização Judaica da Escola de Serviço Estrangeiro Edmund A. Walsh da Universidade de Georgetown, declarou à Sputnik que a decisão de realizar eleições antecipadas reflete "o repetido método de Netanyahu de abordar questões domésticas acaloradas", como o projeto de lei do alistamento militar, "simplesmente ignorando".
"No processo, Netanyahu habilmente transferirá a culpa pela indecisão dele e de seu governo sobre seus parceiros de coalizão. Ao fazê-lo, Netanyahu espera marginalizar os concorrentes de direita do Likud, bem como aumentar ainda mais o número de assentos parlamentares do Likud entre outros partidos de direita, principalmente o partido do Lar Judaico", avaliou Stern.
O doutor Gayil Talshir, do Departamento de Ciência Política da Universidade Hebraica de Jerusalém, disse à Sputnik que é possível que as acusações de corrupção estejam por trás do movimento.
"Netanyahu espera ganhar a próxima eleição antes da acusação e audiência oficiais", comentou Talshir.
Já o doutor Israel Sergio Waismel-Manor, presidente da Divisão de Governança e Teoria Política da Universidade de Haifa, ecoou as opiniões de seus colegas em seus comentários à Sputnik, dizendo que uma acusação potencial, em vez de debates sobre o projeto de conscrição militar, era a razão para as eleições antecipadas.
"Uma maneira de pelo menos tentar evitar essas acusações é ir para as eleições […] Se a acusação vier somente depois que os resultados das eleições forem liberados, então ele teria o chamado mandato das pessoas que votaram independentemente dessas alegações e ele diria ao público "você conhece minhas decisões e ainda votou em mim e, portanto, devemos cancelar essa investigação", ponderou Waismel-Manor.
O especialista observou, no entanto, que a deterioração da situação econômica, bem como certos desafios no cenário global, poderiam ter sido levados em conta na decisão.
"A economia está pior do que antes, e Netanyahu tem que enfrentar uma economia ainda pior. Globalmente, a situação em termos de fronteira com o Líbano, o Hamas e até mesmo as chances do presidente dos Estados Unidos de colocar na mesa um acordo comercial não é algo que os eleitores de direita apreciariam — todos parecem apressados nessa decisão", destacou Waismel-Manor.
Além disso, a retirada de Yisrael Beiteinu da coalizão dominante enfraqueceu o poder de Netanyahu no comando do país, deixando-o com apenas uma maioria de um assento no Knesset, observou o especialista.
"É preciso reconhecer que é difícil manter uma coalizão que tenha 61 membros no Parlamento de 120 assentos, na qual às vezes os membros dos partidos podem assumir a consciência, não a linha de seu partido", concluiu o docente da Universidade de Haifa.