O que é o 'shutdown'?
Nos EUA o "shutdown" do governo significa a paralisação parcial do governo, ou seja, o fechamento temporário de muitos ministérios e agências governamentais, financiados pelo Congresso dos EUA, devido à ausência de consenso em relação ao financiamento federal para o próximo ano. Os funcionários dessas entidades públicas não se podem apresentar ao trabalho e ficam em um regime de licença sem vencimento.
As maiores paralisações da história do país aconteceram no século XX. Em 1978, durante o mandato presidencial de Jimmy Carter, o "shutdown" durou 17 dias – de 1º a 17 de outubro e se deu despois de Carter vetar uma legislação sobre obras públicas e reduzir os gastos militares.
O recorde foi batido durante a presidência de Bill Clinton – a paralisação do governo durou 21 dias (de 15 de dezembro de 1995 a 6 de janeiro de 1996) por causa de um conflito entre o então presidente Bill Clinton e os republicanos no Congresso sobre o financiamento do Medicare (sistema de seguros de saúde gerido pelo governo americano) e os gastos do governo.
Entretanto, a paralisação do governo atual está prestes a bater o recorde de Clinton. Ela já durou 20 dias, e nem Trump, nem o Senado, que não incluiu o dinheiro para o muro no projeto orçamental, parecem estar dispostos a ceder.
A paralização de governo atual é considerada uma das mais longas, mas não é o primeiro "shutdown" que Donald Trump enfrenta. O primeiro ocorreu entre 20 e 22 de janeiro de 2018 e foi causado pela falta de acordo sobre aprovação do orçamento para a criação de uma solução legal para os imigrantes ilegais que chegaram aos EUA quando eram crianças.
A segunda paralisação do governo ocorreu em 9 de fevereiro e durou apenas várias horas, quando o senador republicano Rand Paul, que se opõe fervorosamente a qualquer aumento de gastos públicos, decidiu bloquear a aprovação do orçamento.
O "shutdown" atual foi declarado em 22 de dezembro, quando os democratas do Senado dos EUA não aprovaram o projeto de orçamento devido à exigência do presidente Donald Trump de canalizar mais de cinco bilhões de dólares (R$ 18,4 bilhões) para o financiamento da construção de um muro na fronteira com o México (uma das promessas eleitorais de Trump).
Em 9 de janeiro Trump abandonou uma reunião que tinha com os líderes do Congresso para negociar o fim do shutdown.
"Acabo de sair de uma reunião com Chuck e Nancy, uma perda total de tempo. Eu perguntei o que vai acontecer em 30 dias se eu abrir rapidamente as coisas, se aprovariam a [nova norma de] Segurança de Fronteira, que inclui um muro ou barreira de aço? Nancy disse, NÃO. Eu disse tchau, nada mais funciona!", escreveu Trump na sua conta no Twitter após o encontro com a líder da Câmara de Representantes, Nancy Pelosi, e o líder da minoria no Senado, Chuck Schumer (ambos são democratas).
O presidente dos EUA ameaça manter a paralisação durante "meses ou anos" se a sua proposta de construção do muro na fronteira mexicana não avançar e continua insistindo que o muro na fronteira com o México é essencial para a segurança dos EUA, para proteger o país dos terroristas e criminosos.
Segundo o economista e presidente do Conselho de Consultores Econômicos, Kevin Hassett, cada duas semanas do shutdown vão reduzir em 0,1% o volume de produção nos EUA. Além disso, o shutdown afeta o bem-estar de 800 mil empregados e vai afetar o consumo privado (uma parte importante do PIB). Além disso, em 9 de janeiro a agência de classificação de crédito Fitch informou que pode cortar o rating AAA dos EUA se a paralização continuar até o 1º de março.
Sem dúvidas, a paralização atual do governo dos EUA é não apenas um sinal de crise política, mas um problema que afeta cada vez mais a economia do país.
Estado de emergência à vista?
Entretanto, se Trump se atrever a introduzir o estado de emergência, os seus adversários poderiam contestar sua decisão no Supremo Tribunal.
"Se [Trump] introduzisse o estado de emergência, seus adversários políticos e a mídia […] poderiam começar a declarar que Trump abusou da sua posição. Isso abriria o caminho para o impeachment – não sob pretexto das alegadas ligações com a Rússia, mas para um impeachment real. O bom senso prevaleceu", disse o analista Mikhail Sinelnikov-Orishak comentando s situação à RT.
Parece que a paralisação atual está longe de ficar resolvida. Nem Trump, nem seus adversários democratas planejam ceder. Isso poderia se tornar uma verdadeira crise política e econômica para o país.