Ao manter o caso na Justiça do Rio de Janeiro e as investigações sob o comando do Ministério Público fluminense (MP-RJ), o ministro do Supremo aumentou a pressão sobre o filho mais velho do presidente, que nega envolvimento no caso, mas tentou anular provas já colhidas envolvendo movimentações suspeitas de R$ 1,2 milhão de Queiroz.
Ouvido pela Sputnik Brasil, o professor de Economia Política e de Políticas Públicas Carlos Pereira, da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getúlio Vargas (EBAPE-FGV), avaliou que o episódio é sério e possui potenciais complicações ao presidente. Porém, ele vê uma estratégia possível para Bolsonaro se fortalecer.
"Vai depender de como o governo vai se posicionar a partir de agora […]. Se o governo agir dessa forma, e de certa forma agir como Abraão – que ofereceu o seu filho em sacrifício [a Deus] –, pode ser inclusive que o governo saia inclusive fortalecido, dado que a população pode se solidarizar com o presidente", comentou Pereira.
O docente da FGV ressaltou que, ao "entregar" o filho para que responda à Justiça por eventuais erros cometidos no caso Queiroz, Bolsonaro poderia colher dividendos políticos. Apesar de elogiar o fato do atual governo não ter tentado interferir nas investigações, que começou após um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) apontar as movimentações do ex-assessor de Flávio, Pereira mencionou que o presidente pode ter problemas adiante.
"O problema maior do presidente Jair Bolsonaro eu acho que é não dispor no Congresso de uma base sólida, estável e majoritária que sirva de anteparo à eventuais acusações que venham a surgir, não só em relação ao seu filho, mas em outras áreas. Normalmente se pensa que é importante se ter uma base majoritária e sólida no Congresso para se aprovar o que quer, mas muitas vezes é importante ter uma base sólida justamente para se aprovar ou para se obstaculizar o que não quer", avaliou.
"Quando o presidente não tem esse escudo protetor no Congresso, fica muito vulnerável a potenciais escândalos, investigações, CPIs, então acho que rapidamente o presidente Bolsonaro tem que aprender a necessidade de construir essa base de sustentação sólida e majoritária no Congresso para poder evitar ser tão suscetível a escândalos e a vulnerabilidades que normalmente surgem diante de um mandato presidencial", acrescentou.
A eleição do deputado federal Rodrigo Maia (DEM-RJ) para mais um mandato como presidente da Câmara dos Deputados pode ser visto como um bom sinal para Bolsonaro (a situação no Senado segue indefinida). Contudo, a falta de uma maior solidez no Legislativo deve custar mais caro ao governo, na visão do professor da FGV.
"Se ele [Bolsonaro] tivesse construído essa base desde antes, estabelecido quais seriam os termos de negociação, quais moedas estariam sendo trocadas e com quais objetivos, se ele tivesse tido esse diálogo franco com a sociedade, utilizando-se do seu carisma, de seu contato direto com a sociedade ao invés de demonizar o presidencialismo de coalizão como ele fez, dizendo que ia criar uma nova política… então agora, mesmo que o presidente aprenda rapidamente, tente construir essa base, já vai ser em condições inferiores do que seria se ele tivesse definido isso desde o início do seu governo", explicou.
Para Pereira, a única certeza até aqui exposta pelo caso envolvendo Queiroz e Flávio Bolsonaro é a de que as instituições de controle e fiscalização no Brasil são sólidas e independentes, capazes de "constranger políticos e governos". Bom para o país, pior para o senador que, para Pereira, encontra-se em uma situação bastante delicada neste momento.
"Acho que é uma afirmação de que as instituições de controle estão firmes, altivas e independentes, capazes de constranger inclusive o novo governo. E com a continuidade dessas investigações, do que já sabemos e já foi divulgado, a situação do senador é muito delicada, porque a sucessão de depósitos e movimentações financeiras suspeitas, mesmo por caixa eletrônico, com valores muito similares, e bem como as supostas vinculações do senador com seu assessor e também com pessoas vinculadas à milícia no Rio de Janeiro torna a posição do senador muito delicada. Essas investigações tendem a vulnerabilizá-lo ainda mais", finalizou.