Já na segunda-feira (4), o presidente Jair Bolsonaro enviou ao Congresso Nacional a tradicional mensagem do Executivo no início de cada ano de trabalho do Legislativo. No pronunciamento feito pela primeira-secretária do Congresso, deputada Soraya Santos (PR-RJ), Bolsonaro deixou claro algumas das prioridades do seu mandato.
No discurso de 254 páginas preparado pelo ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, o governo tentou vender seu peixe e conquistar os deputados a respeito do programa de governo.
Bolsonaro começa atacando em duas frentes: segurança e economia
O presidente Jair Bolsonaro começou o ano legislativo com uma estratégia de adotar duas agendas perante o Congresso Nacional. A da segurança e a da economia.
Na área econômica, o "Posto Ipiranga" e ministro da Economia, Paulo Guedes, usou de um vazamento para testar como a população receberá o seu plano de Reforma da Previdência. No início da semana, um rascunho divulgado pela imprensa dava conta de que a idade mínima de aposentadoria para homens pode subir para pelo menos 65 anos.
No discurso para o Congresso, o governo Federal disse que o grande impulso de um novo ambiente para o país virá com o projeto da nova Previdência.
"Estamos concebendo uma proposta moderna e, ao mesmo tempo, fraterna, que conjuga o equilíbrio atuarial, com o amparo a quem mais precisa, separando "previdência" de ‘assistência', ao tempo em que combate fraudes e privilégios", escreveu o Governo.
Outra prioridade para o governo, que vai de encontro às falas de Bolsonaro durante a campanha, é o chamado Pacote- Anticrime apresentado pelo Ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, também na segunda-feira (4).
O projeto, no entanto, é alvo de críticas de diversos setores. Inclusive entre ministros do Supremo Tribunal Federal, como noticiou a Folha de S.Paulo.
Em entrevista à Sputnik Brasil, Cláudio Couto, pesquisador da Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP) e especialista em Ciências Sociais e Políticas, comentou que uma proposta dá uma espécie de ‘salvaguarda' à outra em termos de popularidade e confiança do mercado.
"Ele ganha fôlego em um certo sentido em termos de popularidade com uma [Pacote Anti-Crime] e ganha combustível para gastar esse fôlego com a outra [Previdência], que é importante para ele conseguir respaldo dos setores econômicos", disse.
Bolsonaro ganha fôlego inicial com eleições da Câmara e Senado
As vitórias de Rodrigo Maia (DEM-RJ) e de Davi Alcolumbre (DEM-AP), ambos ligados a Bolsonaro, para as presidências da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, respectivamente, fazem o presidente respirar mais tranquilamente neste início de mandato.
Ter o controle das Casas Legislativas é fundamental para qualquer presidente que deseja agilidade e rapidez na aprovação de projetos. Os dois candidatos já mostraram um certo alinhamento com o governo Bolsonaro.
Segundo o especialista, o Senado tem agora um presidente com um perfil mais conservador do que o Rodrigo Maia e, consequentemente, alguém que tende a favorecer as agendas do governo tanto no âmbito econômico quanto no campo dos costumes.
"Do ponto de vista do controle das duas Casas eu acredito que o governo não vai ter muitos problemas. Ele é mais forte no Senado do que na Câmara, creio eu porque o Rodrigo Maia tem uma certa independência", ressaltou.
Pedras no sapato que podem frustrar ‘lua de mel'
Apesar do aparentemente sucesso de Bolsonaro com a vitória da base do governo nas eleições para as presidências da Câmara e do Senado, há ainda rusgas que ficaram do processo eleitoral, especialmente no Senado, e problemas de pessoas próximas ao presidente que podem trazer turbulências indesejadas e incêndios para qualquer governo.
A primeira rusga a ser administrada imediatamente é a com o político tradicional Renan Calheiros (MDB-AL). Magoado pela derrota na eleição da presidência do Senado, a pergunta que fica se o senador de 63 anos se tornará o Eduardo Cunha.do governo Bolsonaro. Ou seja, se Renan terá a mesma força de atrapalhar os projetos do governo Bolsonaro que Cunha teve para arruinar os de Dilma Rousseff.
Renan não terá, como Eduardo Cunha, o poder da presidência, mas bastam apenas 33 senadores para derrubar qualquer reforma constitucional. Se juntarmos somente a oposição formada por PT, PDT, PSB, PPS e Rede, já se somam 19 votos.
"O Renan é alguém que tende a ficar um pouco mais isolado nesse momento, mesmo que ele tenda a retalhar o governo, eu não sei se ele tem força o suficiente para tornar essa retaliação uma coisa tão temível assim", ponderou Cláudio Couto.
"Os problemas maiores desse governo estão nos seus próprios quadros, os filhos do presidente, por exemplo, são uma fonte permanente de problema, o Flávio Bolsonaro é alguém muito enroscado com uma série de histórias mal explicadas, ligação com milícia, toda a movimentação financeira do seu ex-assessor e motorista, essas coisas podem ainda produzir efeitos negativos para o governo", diz Cláudio Couto à Sputnik Brasil.
Além dos problemas com o filho, Jair Bolsonaro ainda precisará lidar com outro problema que vem de dentro do governo, segundo Costa.
"Há confusão também na área da política externa e na educação. Ministros que são demasiadamente ideológicos, pouco afeitos a questões práticas da gestão governamental, tudo isso pode realmente produzir problemas para o governo", completou se referindo a Ernesto Araújo (Relações Exteriores) e ao colombiano Ricardo Vélez Rodríguez (Educação), que declarações sobre Venezuela ou gratuidade nas universidades causaram rusgas entre setores influentes no governo.
No primeiros meses vamos descobrir se o início da "lua de mel" de Bolsonaro com o Congresso Nacional vingará em casamento duradouro ou se um rompimento entre os dois poderes será o destino dessa relação no futuro. Aguardemos os próximos capítulos.