Questionado na última quinta-feira, 7, em Washington, sobre a anunciada mudança da missão diplomática brasileira na capital israelense, Ernesto Araújo afirmou que a manobra é algo que ainda está sendo considerado, mas que o desejo do governo brasileiro é o de que, se isso realmente ocorrer, seja positivo não apenas para os laços com os israelenses, mas com todo o mundo árabe e islâmico. Seria isso possível?
"Imagino que Bolsonaro esteja, que o governo esteja, de uma certa forma, adiando essa decisão, até para conseguir medir a temperatura, saber o que é melhor. Porque transferir a embaixada seria muito ruim para estados que votaram no Bolsonaro em peso, seria prejudicial também para a própria economia brasileira, e não transferir a embaixada seria quebrar uma promessa de campanha", disse o acadêmico em entrevista à Sputnik Brasil, dizendo acreditar que o Ministério das Relações Exteriores do Brasil esteja em vias de fazer essa transferência.
Baghdadi ressalta que, tradicionalmente, o Brasil sempre se destacou por um acentuado equilíbrio em suas relações internacionais, ao contrário do que vem sinalizando no atual governo. Hoje, entretanto, os passos da política externa brasileira estariam muito mais no sentido de despertar curiosidade do que de sinalizar alguma previsibilidade.
"Essa mudança da embaixada certamente geraria uma curiosidade, e até uma certa preocupação, dos demais países com relação a o que mais viria pela frente."
De acordo com Raquel Rocha, doutora em Relações Internacionais pela Universidade de São Paulo (USP), há uma grande dificuldade, por parte do atual governo do Brasil, do ponto de vista prático, em cumprir essa promessa de campanha de Bolsonaro, de reconhecer Jerusalém como capital do Estado de Israel.
"Eu confesso que eu acredito que essa seja uma promessa que vai ser alongada durante os anos de governo Bolsonaro. E vai ser sempre essa ideia de que o quando vai ser discutido e não necessariamente vai ser concretizado", disse ela à Sputnik.
Além das consequências comerciais óbvias, a especialista da USP acredita que o impacto político sobre essa provável mudança:
"Na pauta política, com certeza, a gente vai ter grandes críticas", afirmou, lembrando o caso dos Estados Unidos, país que gerou fortes reações internacionais ao realizar essa manobra. "É um pouco até contraditório em termos de alinhamento de política externa que o Brasil, agora, seja tão favorável a um desenho geográfico mais favorável a Israel. E ainda mais por ter esse favorecimento em cima de uma pauta religiosa", declarou Rocha.