Em entrevista à Agência Reuters, Mourão também declarou que Bolsonaro ainda não decidiu se seu secretário-geral, Gustavo Bebianno, deveria deixar o governo diante das acusações de uso indevido de fundos de campanha nas eleições de outubro.
Bolsonaro retomou suas funções nesta quinta-feira após mais de duas semanas no hospital e foi imediatamente confrontado com sua primeira crise de gabinete desde que assumiu o cargo em 1º de janeiro.
O escândalo envolvendo um de seus assessores mais próximos, que nega as acusações, roubou o trovão das primeiras notícias da proposta de reforma do governo — uma pedra angular de uma ambiciosa agenda de reformas econômicas.
Após dias de manchetes prejudiciais, Bolsonaro endossou um ataque a Bebianno por seu filho Carlos, vereador do Rio de Janeiro que, junto com dois irmãos, se tornaram figuras de destaque na política nacional desde a eleição de seu pai.
Carlos Bolsonaro tem sido o membro da família mais combativo nas mídias sociais. Outro filho do presidente, Flávio, senador recém-eleito, é alvo de uma investigação de lavagem de dinheiro. Ele nega qualquer irregularidade.
O irmão mais novo, Eduardo Bolsonaro, o legislador federal mais votado do país, tornou-se enviado estrangeiro de seu pai, cortejando aliados como o americano Steve Bannon, que disse à imprensa brasileira na semana passada que Mourão era inútil e pouco importante para a política externa de Bolsonaro.
Mourao afirmou à Reuters que era hora de Bolsonaro "dar uma ordem unificada às crianças".
"Cabe ao presidente chamar seus filhos e dizer: 'Olha, você trabalha no Senado, você na Câmara e você na prefeitura. Vá trabalhar lá para apoiar as ideias do governo'", avaliou.
Negócios estrangeiros
O vice-presidente, general aposentado que abraçou seu papel na ausência de Bolsonaro e preenche sua agenda com reuniões com diplomatas e executivos estrangeiros, minimizou as diferenças com seu chefe em assuntos internacionais.
Ele disse que o plano de Bolsonaro de transferir a embaixada brasileira em Israel para Jerusalém foi uma péssima ideia, porque prejudicaria as exportações brasileiras para os países árabes, mas declarou que apoiaria a decisão do presidente se ele seguir em frente com a mudança.
Durante a campanha, Bolsonaro criticou grandes investimentos no Brasil pelos chineses, o maior parceiro comercial do país. Em contraste, Mourão disse que planeja visitar a China no final de maio para reiniciar as reuniões de uma comissão bilateral de alto nível para estimular o comércio e o investimento.
"A China tem uma grande fome por commodities que o Brasil produz e por investimentos para controlar algumas fases da logística, e por isso devemos fazer o melhor possível", comentou o vice-presidente brasileiro.
Mourão disse que não tinha certeza de como o Brasil seria capaz de fornecer ajuda humanitária à Venezuela, a pedido da oposição ao presidente Nicolás Maduro. Ele afirmou que isso exigiria um transporte aéreo pelos militares até a fronteira venezuelana.
Ele acrescentou que o governo brasileiro perdeu seus contatos com os comandantes militares venezuelanos que apoiam Maduro, mas seus relatórios de inteligência mostram que as fileiras mais baixas das Forças Armadas na Venezuela estão "muito infelizes".
Mourão estimou que Maduro durará mais três a seis meses no poder e que seu governo pode entrar em colapso repentinamente "como um castelo de cartas", quando oficiais militares de alta patente se voltarem contra ele, opinou.