Fontes do Ministério de Relações Exteriores do Brasil garantiram à Sputnik que os diplomatas brasileiros do vice-consulado em Santa Elena de Uairen, na Venezuela, a 15 km da fronteira "receberam o compromisso das autoridades venezuelanas" que os brasileiros voltarão ao país "antes do final de hoje".
O Ministério de Relações Exteriores do Brasil informou que não se trata de uma reabertura da fronteira. Somente entre 70 e 100 cidadãos deste país podem entrar no Brasil, que nos últimos dias entraram em contato com o vice-consulado explicando sua situação.
Entre os brasileiros, existem cerca de 35 caminhoneiros e grupos turísticos que tinham cruzado o país vizinho para escalar o monte Roraima, que foram incapazes de retornar após o fechamento da fronteira decretada pelo governo de Nicolás Maduro na noite de 21 de fevereiro. Em alguns casos, segundo o Itamaraty, são pessoas doentes.
"Estamos negociando com a guarda venezuelana [da fronteira], estamos enviando uma lista de todos aqueles que procurou ajuda, e essas pessoas serão autorizados a sair", comentaram as fontes citadas.
O Ministério de Relações Exteriores do Brasil destacou que esta é uma situação específica e que, em geral, não há planos para evacuar os cidadãos brasileiros residentes na Venezuela – são cerca de 13 mil no total e a grande maioria reside em Caracas.
No entanto, o governo brasileiro entrou em contato com muitos deles na terça-feira por meio de e-mails, grupos do WhatsApp e redes sociais para verificar se eles estavam interessados em deixar a Venezuela, dada a situação de crise no país.
O consulado brasileiro em Caracas pediu informações que permitissem às autoridades brasileiras "realisticamente considerar" se uma retirada é necessária.
Cerca de 2 mil e-mails foram enviados para atualizar os dados de residência e localização, e "cerca de 600 brasileiros" manifestaram interesse em deixar o país se a situação "piorar muito".
No momento, a maioria não quer deixar o país porque ele já tem "raízes profundas", são cidadãos que têm residência permanente na Venezuela, têm negócios executados e têm família e até mesmo crianças com direito à dupla cidadania.
Nesta terça-feira, um oficial russo acusou os Estados Unidos de estarem preparando uma intervenção militar contra a Venezuela, o que foi negado no fim do dia por Washington.
Polêmica e violência
A oposição venezuelana anunciou no sábado que entrariam pela fronteira alimentos e medicamentos doados por os EUA e outros países, que foram descritos por Maduro como "migalhas" e "um show para justificar uma intervenção no país".
A vice-Presidente Delcy Rodriguez, por sua vez, destacou que na Venezuela "não há crise humanitária" e recordou que, no âmbito do direito internacional aplicável à ajuda humanitária apenas em caso de desastres naturais e conflitos armados.
O governo venezuelano alertou que qualquer veículo que entre em seu território sem autorização será considerado um alvo militar.
Em 5 de janeiro, o deputado Juan Guaidó foi eleito presidente da Assembleia Nacional. No dia 23 de janeiro, dois dias depois de a Suprema Corte anular sua nomeação, Guaidó proclamou-se "presidente encarregado" da Venezuela, apelando para um artigo constitucional que prevê esse número.
O presidente Nicolas Maduro, que assumiu seu segundo mandato em 10 de janeiro, chamou a declaração de Guaidó de uma tentativa de golpe e culpou os EUA de a terem orquestrado.
Guaidó foi imediatamente reconhecido pelos EUA, caminho ao qual aderiram cerca de 50 países.
Rússia, China, Cuba, Bolívia, Irã e Turquia, entre outros países, continuam apoiando o governo de Maduro. Já México e Uruguai se recusaram a reconhecer Guaidó, declararam-se neutros e propuseram um diálogo entre as partes para superar a crise.
A região de fronteira da Venezuela com o Brasil e com a Colômbia registrou episódios de violência no último fim de semana, resultados em duas mortes e dezenas de feridos, em uma queda de braço em torno da entrada de ajuda humanitária no país caribenho.