A cúpula de Hanói entre o presidente dos Estados Unidos e o líder norte-coreano terminou antes do previsto e sem nenhum acordo, e muito menos um avanço que poderia levar as negociações a ultrapassarem o impasse.
Pyongyang fez sua primeira avaliação pública da reunião na sexta-feira, com a vice-chanceler Choe Son-hui, que participou das negociações, acusando altos funcionários da equipe de Trump de derrubar o presidente e trazer "uma atmosfera de hostilidade e desconfiança" para a mesa, relatou a Agência Associated Press.
A delegação norte-coreana chegou a Hanói com uma proposta realista de que os EUA levantem algumas sanções econômicas como um gesto de reconhecimento da moratória de 15 meses de Pyongyang em testes nucleares e de mísseis balísticos, afirmou Choe a diplomatas e jornalistas.
Trump expressou para Kim que ele estava disposto a mostrar flexibilidade durante uma reunião cara-a-cara. Mas, mais tarde, o secretário de Estado Mike Pompeo e o conselheiro de segurança nacional John Bolton interferiram, exigindo a desnuclearização completa antes que qualquer sanção fosse suspensa, o que os norte-coreanos acharam "um grande absurdo".
"Quero deixar claro que a posição de gângster dos EUA acabará por colocar a situação em perigo. Não temos nem a intenção de nos comprometer com os EUA de nenhuma forma, nem muito menos o desejo ou o plano de conduzir esse tipo de negociação", declarou.
Choe criticou Trump por reivindicar em uma coletiva de imprensa após as negociações terem naufragado por que Pyongyang queria que todas as sanções fossem suspensas — uma alegação que o Departamento de Estado dos EUA admitiu mais tarde não ser precisa.
"O que está claro é que os EUA jogaram fora uma oportunidade de ouro desta vez", revelou. "Não sei por que os EUA divulgaram essa descrição diferente. Nós nunca pedimos a remoção de sanções na sua totalidade".
Ela acrescentou que, após o encontro, Kim Jong-un questionou se faz sentido realizar uma nova cúpula. O líder norte-coreano agora decidirá se ele concordará em mais conversas com Trump e se manterá a moratória nos testes, disse a diplomata. Uma declaração oficial sobre o assunto virá em breve.
No entanto, Choe também teria dito que "as relações pessoais entre os dois líderes supremos ainda são boas e a química é misteriosamente maravilhosa", mantendo a perspectiva de futuras conversações.
O tom do Ministério de Relações Exteriores da Coreia do Norte, destacando a falta de progresso na implementação da questão da desnuclearização, está em contraste gritante com a retórica muito mais otimista do representante especial dos EUA para a Coreia do Norte, Stephen Biegun.
O enviado dos EUA disse na segunda-feira que a diplomacia com Pyongyang "ainda está muito viva", e expressou a esperança de que Washington seja capaz de manter um "compromisso próximo" com a Coreia do Norte, apesar do recente revés da cúpula. Ele, no entanto, não ofereceu detalhes sobre se uma nova rodada de negociações está sendo planejada.