O primeiro a informar que não participaria foi o presidente do Senado do Chile, Jaime Quintana. Segundo ele, não é possível participar de eventos com quem "se manifesta contra minorias sexuais, mulheres e indígenas".
"Não estarei sábado em La Moneda [palácio presidencial], por convicção política e também porque tenho uma agenda regional já confirmada", declarou Quintana, em entrevista publicada no site do jornal chileno La Tercera.
Em sua conta no Twitter, o senador chileno explicou mais a fundo os seus motivos para não participar da agenda de Piñera com Bolsonaro – ele confirmou presença nos eventos do Executivo chileno com o presidente da Colômbia, Iván Duque.
"Em uma visita oficial (não de Estado), o Senado não tem obrigação de participar. O presidente Piñera nos convidou para almoçar em homenagem a Bolsonaro e como Mesa [que comanda o Senado] decidimos não ir. Minha convicção não me permite homenagear aqueles que se manifestam contra minorias sexuais, mulheres e indígenas", escreveu.
En una visita oficial (no de Estado) el Senado no tiene obligación de participar. Pdte Piñera nos invitó a almuerzo en honor a Bolsonaro y como Mesa definimos restarnos. Mi convicción no me permite rendir honores a quien se manifiesta contra minorías sexuales, mujeres e indígenas
— Jaime Quintana (@senadorquintana) 19 de março de 2019
O vice-presidente do Senado, Alfonso de Urresti, também recusou o convite, o que rendeu críticas da bancada governista chilena.
Outro a se negar a almoçar com Bolsonaro foi o presidente da Câmara dos Deputados do Chile, Iván Flores. Em uma entrevista a uma rádio local, citada pelo jornal La Tercera, o parlamentar alegou que a sua decisão de não participar é pessoal.
"Quando um chefe de Estado emite declarações que eu creio que beiram ao menosprezo de algumas condições das pessoas, outra pessoa está em condições de emitir sinais políticos [...] no caso do presidente Bolsonaro, cada vez que alguém fala, ou cada vez que alguém faz algo, está emitindo sinais e os sinais, alguns que ele emitiu, não são em nosso parecer os que gostaríamos que um chefe de Estado pudesse emitir", disse Flores.
O governo brasileiro ainda não se pronunciou sobre a posição dos parlamentares, porém a rejeição em Santiago pode aumentar, sobretudo se Bolsonaro fizer menções à ditadura militar do general Augusto Pinochet (1973-1990).
Filha do ex-presidente chileno Salvador Allende – deposto por Pinochet em 1973 –, Maria Isabel Allende compõe o atual Senado chileno, assim como Juan Pablo Letelier, este filho de Orlando Letelier, que foi chanceler de Allende e morreu em atentado nos EUA.
Em uma recente visita ao Paraguai, Bolsonaro elogiou o ditador Alfredo Stroessner, que comandou com mão de ferro o país por 35 anos, envolvendo-se em assassinatos e em uma rede de pedofilia amplamente investigada pelas autoridades paraguaias.
Ainda em solo chileno, o presidente brasileiro deve participar de uma agenda bilateral com Piñera e de um encontro regional que deve oficializar uma saída em massa de país sul-americanos da União das Nações Sul-Americanas (Unasul), criada em 2008, em prol de um novo bloco regional intitulado Prosul.