Durante a visita do presidente Jair Bolsonaro (PSL) a Washington, nos Estados Unidos, foi ventilada a possibilidade de tornar o Brasil aliado preferencial da OTAN. Na Casa Branca, Donald Trump disse que "pretende indicar" o Brasil para a posição.
O cargo de aliado preferencial marca uma cooperação especial na área militar, com benefícios econômicos, mas está longe de carregar o mesmo peso de Estado-membro — que define uma obrigação de cooperação militar em caso de ataque contra um dos 28 países-membros do bloco.
Segundo a Folha de S. Paulo, a possibilidade do Brasil ser um Estado-membro da OTAN foi discutida a portas fechadas e teria apoio do conselheiro de segurança nacional dos EUA John Bolton.
Caso o Brasil torne-se parte da OTAN, será o primeiro país do BRICS na Aliança do Atlântico Norte.
Diego Pautasso enxerga a associação com "preocupação". A entrada na OTAN "rompe com tradição da política externa brasileira, de não alinhamento, de autonomia e de multilateralidade. E nos faz comprar uma agenda securitária, dos EUA, que é de rivalidade com China, Rússia, Irã, com o terrorismo. Isso não tem absolutamente nenhuma convergência com nossa agenda internacional. E acaba por acelerar a desintegração da integração latino-americana que vinha sendo construída com avanços lentos e graduais desde o Mercosul e havia se aprofundado com a Unasul", diz o pesquisador.
Já a França emitiu nota em que parece rejeitar o plano de Trump e Bolsonaro. O texto diz que o regulamento da OTAN define "escopo geográfico específico de aplicação" para integrar o bloco. No artigo 10 do tratado de constituição do bloco é estabelecido que o convite a "qualquer outro Estado Europeu" deve ser aprovado por todos os Estados-membros.
No ano passado, a Colômbia juntou-se à OTAN como parceira global. A medida ocorreu em meio a escalada da tensão com a vizinha Venezuela.
Nos Estados Unidos, Bolsonaro deixou no ar a possibilidade de uma ação militar na Venezuela. O mandatário brasileiro seguiu a linha de Trump ao dizer que todas as possibilidades são consideradas.
O governo do presidente venezuelano, Nicolás Maduro, classificou as declarações como "apologia da guerra" por uma "aliança neofascista".
A possível ação militar brasileira desagrada a cúpula dos militares que integram o governo Bolsonaro, aponta reportagem publicada pela Folha de S. Paulo.
O vice-presidente, Hamilton Mourão, e o ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno, já se pronunciaram publicamente contra uma aventura militar contra Caracas.
"Há um movimento, que não é de hoje, de enquadrar toda a América Latina dentro do escopo securitário e político norte-americano, isso vem lá desde a Doutrina Monroe, e nos anos 1990 foi revitalizado do ponto de vista econômico com a Alca [Área de Livre Comércio das Américas]. E agora com essa tentativa de expandir a OTAN para a Colômbia, e eventualmente com parcerias com o Brasil", afirma o pesquisador do Colégio Militar de Porto Alegre.
Críticas de Trump à OTAN
Trump é um crítico público da OTAN. O presidente dos EUA defende que os membros do tratado aproveitam-se da proteção oferecida por Washington e não investem o suficiente em defesa e nas suas forças armadas.
Antes de assumir a Casa Branca, Trump chegou a dizer que a OTAN é "obsoleta" e colocou em cheque, em 2018, uma das regras do bloco que estabelece que um ataque contra um membro da OTAN é um ataque contra todos os países-membros.
Comentando sobre a entrada de Montenegro na OTAN, Trump disse: "Montenegro é um pequeno país com pessoas muito fortes… Eles são pessoas muito agressivas. Eles podem ficar agressivos e parabéns, você está na terceira guerra mundial".