Para o professor de relações internacionais Gunther Rudzit, da Escola Superior de Propaganda e Marketing de São Paulo (ESPM-SP), o saldo da viagem de Bolsonaro e de sua delegação aos EUA foi positivo, com contatos importantes para as áreas de inteligência, defesa e economia.
No entendimento de Rudzit, apesar da ideia de um alinhamento automático, os passos dados até agora pelo governo não configuram esse tipo de situação. Segundo ele, boa parte das críticas e acusações que vêm sendo feitas ao posicionamento do Brasil em relação aos EUA, de que o país estaria se colocando em uma posição subalterna, reflete uma polarização que antecede o último período eleitoral, pouco contribuindo para a resolução dos problemas enfrentados pelo país.
"A sociedade brasileira se radicalizou nesses dois polos. De um lado, a personificação dessa visão é o ex-presidente Lula, e, de outro lado, a personificação é do candidato e agora presidente eleito, em exercício, Jair Bolsonaro. Então, as acusações de ambos os lados existiram antes e vão continuar existindo pós-eleição", disse o professor em entrevista à Sputnik Brasil.
Um dos resultados apontados por Bolsonaro e Trump como ponto positivo do encontro que tiveram na última terça-feira é o apoio declarado dos EUA à entrada do Brasil na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), condicionado à renúncia brasileira ao tratamento preferencial a que tem direito na Organização Mundial do Comércio (OMC), preço considerado alto demais por alguns analistas.
Juliana Inhasz, coordenadora de graduação do curso de Economia do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), explica que a OCDE é vista, na prática, como um clube dos países ricos, formado por nações avançadas e prósperas. Fazer parte da organização, segundo ela, é como ter um selo ou uma garantia de que aquela economia vai bem, tem espaço para crescer e tem uma agenda de medidas e ações sólidas ao longo do tempo, algo que seria muito bom para o Brasil.
"Isso, para a gente, hoje, seria muito importante. Muito provavelmente, isso ajudaria a trazer investimentos, isso ajudaria a atrair a atenção do mundo para o Brasil e para os nossos eventuais potenciais de crescimento ao longo do tempo", disse ela à Sputnik.
Inhasz argumenta que apesar dos benefícios evidentes que o Brasil teria ao ingressar nessa organização, as vantagens que o Brasil perderia ao abrir mão de sua posição privilegiada na OMC — devido ao status de país em desenvolvimento — seriam muito significativas. Para ela, a troca seria muito arriscada.
"Em uma economia como a nossa, que tenta voltar a crescer, abrir mão de benefício é uma medida bem arriscada. A gente ainda não tem um processo de crescimento, uma retomada do crescimento sólida, a ponto de a gente poder negar ou abrir mão de algumas benesses em razão ou em função de um título que, talvez, nós nem consigamos tirar grandes vantagens num primeiro momento."
A especialista afirma que, para o Brasil, o mais seguro seria dar esse passo adiante, que seria a entrada na OCDE, mais à frente.
"No jargão popular, estamos colocando a carroça na frente dos cavalos, e a gente, provavelmente, vai se frustrar em algum momento. A gente não vai conseguir suprir as expectativas que vão ser criadas com o ingresso do Brasil na organização e a gente vai acabar, em algum momento, talvez, até prejudicando esse processo de crescimento ao longo do tempo", afirmou Inhasz.