O lance da companhia brasileira pelo trecho que de 1.537 km que vai de Porto Nacional, no Tocantins, a Estrela d'Oeste, em São Paulo, foi de R$ 2,719 bilhões, com ágio de 100,92%. O lance mínimo era de R$ 1,5 bilhão.
O valor oferecido pela Rumo ficou bem acima do lance apresentado pela VLI, a outra única participante do leilão, que foi de R$ 2,065 bilhões. Agora, a vencedora terá um prazo de dois anos para fazer a ferrovia, um dos principais projetos para escoar os produtos agrícolas do Brasil, funcionar. O contrato terá validade de 30 anos.
— Ministério da Infraestrutura (@MInfraestrutura) 28 de março de 2019
A empresa Ferrovias da Rússia (RZD, na sigla em russo), responsável por 85 mil quilômetros de trilhos, demonstrou, ao longo dos últimos meses, grandes interesses de entrar na disputa pela operação da ferrovia. No entanto, a companhia acabou desistindo da concorrência por entender que havia vícios no edital. O possível motivo do embate seria o que diz respeito ao direito de passagem. O vencedor desse leilão teria que, obrigatoriamente, utilizar trechos já operados pela Rumo e pela VLI para chegar até as zonas portuárias, sendo que o edital só garantia esse direito por um período de cinco anos, deixando o restante do tempo de vigência do contrato em aberto, empecilho que também afastou outros possíveis investidores.
Procurada pela Sputnik Brasil, a RZD informou que "a empresa ainda não está pronta para comentar esse assunto".
Devido a esse imbróglio referente ao direito de passagem, o Ministério Público Federal (MPF) chegou a pedir a suspensão do leilão, destacando que a falta de regras claras sobre esse impasse prejudicaria o processo de disputa.
Um dos que fizeram oposição ao leilão, o engenheiro ferroviário José Manoel Ferreira Gonçalves, líder da Frente Pela Volta das Ferrovias (Ferro Frente), criticou em entrevista à Sputnik a falta de garantia sobre o direito de passagem no edital publicado pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), considerado inconstitucional pelo seu movimento.
"E os outros 25 anos? As empresas ficariam ao deus-dará", disse Gonçalves a esta agência. "Você teria que ter, naturalmente, uma dificuldade enorme, porque, aí, ficaria uma negociação só entre as empresas, sem interferência do governo."
Para o especialista, o governo estaria correndo contra o relógio para dizer à sociedade brasileira e para os eleitores do presidente Jair Bolsonaro, "que eles estão fazendo alguma coisa", ao mesmo tempo em que manda sinais claros ao mercado.
"Nós não temos nada, em princípio, contra o Estado privatizar, mas não concordamos com essa história de dizer que o Estado está falido", afirmou, sublinhando que "para o governo que está aí, privatizar isso é dar um sinal ao mercado". "Isso vai ser um sinalizador: veja só como nós conseguimos fazer. Vocês podem acreditar. Para o governo tem isso. E, para o Brasil, essa privatização, da forma que está sendo feita, é absolutamente prejudicial, vai manter o Brasil no atraso ferroviário."