Em 23 de janeiro, dois dias antes do triste desastre em Brumadinho, a Casa Civil da Presidência da República divulgou um documento estipulando objetivos pouco detalhados do que a administração federal pretendia realizar nos seus primeiros 100 dias, levando adiante a ideia da chamada nova política, muito presente durante o período de campanha eleitoral — apesar da longa história de Bolsonaro e de boa parte de seus aliados na "velha política". Esse documento, publicado sob o título "Metas Nacionais Prioritárias – Agenda de 100 Dias de Governo", foi apresentado como um marco na boa governança pública do Brasil, com 35 propostas para melhorar setores como saúde, educação, meio ambiente, segurança e combate à corrupção. Mas o que foi de fato concretizado nesse período?
— Jair M. Bolsonaro (@jairbolsonaro) 9 de abril de 2019
Ao anunciar esse pacote, há mais de dois meses, o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, definiu como bastante positiva a expectativa de concretização das propostas, com "índice de pelo menos 90%". Entretanto, segundo levantamento feito por diferentes fontes, grande parte das medidas não foram cumpridas ou foram parcialmente cumpridas até aqui, enquanto muitas outras ainda estariam sem previsão de concretização.
De acordo com reportagem publicada pela Folha na última segunda-feira, 8, apenas 34% dos 35 pontos teriam sido completados em sua integridade e outros 46% estariam em fase de implementação, ao passo que, na avaliação do consultor legislativo Luiz Alberto dos Santos, publicada pelo Congresso em Foco, só 20% teriam sido cumpridos totalmente, sem "que isso signifique efeitos concretos ou relevantes".
Para a Controladoria-Geral da União foram previstas quatro medidas: adoção de regras e critérios para ocupação de cargos de confiança no governo federal, a fim de impedir o loteamento de cargos públicos indevidamente com adoção de critérios objetivos para nomeação, como experiência comprovada, qualificação técnica e idoneidade moral; criação do Programa Um por Todos e Todos por Um! Pela Ética e Cidadania, com objetivo de disseminar uma agenda a ser adotada pelas escolas; criação de um Comitê de Combate à Corrupção no governo federal; e estabelecimento de um sistema anticorrupção do Poder Executivo. Apenas a primeira foi cumprida, com o Decreto 9.727, que "dispõe sobre os critérios, o perfil profissional e os procedimentos gerais a serem observados para a ocupação dos cargos em comissão do Grupo-Direção e Assessoramento Superiores — DAS e das Funções Comissionadas do Poder Executivo — FCPE".
— Ministério da Economia (@MinEconomia) 18 de março de 2019
Com três ações previstas cada, a Segurança e os Direitos Humanos também estiveram entre os mais prestigiados. Para a primeira área, uma das de maior preocupação do presidente desde antes da eleição, foi proposta a facilitação da posse de armas, já cumprida através do Decreto 9.685, a apresentação de um projeto de lei anticrime para aumentar a eficácia da justiça, o que também já foi cumprido, com o pacote enviado pelo ministro Sérgio Moro ao Congresso, e mais apoio à operação Lava Jato, com "recomposição policial do pessoal envolvido na operação e maiores condições de trabalho para as equipes do Paraná, Rio de Janeiro, São Paulo e Distrito Federal", ainda pendente. Já para a pasta da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos foram previstas uma campanha nacional de prevenção ao suicídio e à automutilação de crianças, adolescentes e jovens, regulamentação de partes da lei brasileira de inclusão, garantindo direitos a pessoas com deficiência, e regulamentação do direito à educação domiciliar, beneficiando 31 mil famílias. Apenas a primeira foi efetivamente tratada, com a Portaria nº 107, que instituiu o "Grupo de Trabalho de Valorização da Vida e Prevenção da Violência Autoprovocada por Crianças, Adolescentes e Jovens".
— Randolfe Rodrigues (@randolfeap) 7 de abril de 2019
De todos os órgãos ou pastas que receberam apenas uma medida, só a Agricultura cumpriu completamente a sua, que era a ampliação para dois anos do prazo de validade da Declaração de Aptidão (DAP) do Programa Nacional da Agricultura Familiar, com a Portaria nº 1, de 29 de janeiro. Os demais — Advocacia-Geral da União, Educação, Infraestrutura, Saúde, Minas e Energia, Desenvolvimento Regional, Turismo, Secretaria de Governo e Secretaria-Geral da Presidência — ou cumpriram apenas em parte a sua meta ou seguem totalmente pendentes.