O trabalho coletou no ciclo hídrico entre 2018 e 2019, amostras em 278 pontos de 220 rios da Mata Atlântica entre o Rio Grande do Sul até o Rio Grande do Norte. Para isso, foram necessários 3.500 voluntários fazendo coletas de amostragens mensalmente. Os resultados desanimam.
"Infelizmente os rios estão por um triz. [Se analisarmos a totalidade], 93,5% dos rios estão sob risco, uma realidade chocante", lamenta o biólogo e educador ambiental da Fundação SOS Mata Atlântica, Tiago Félix. Segundo ele, a questão é tão complicada que torna-se difícil até mesmo elencar em qual dos 17 estados que compõem o bioma a situação é pior.
"Em todos os estados a situação é crítica, não há nenhuma região do país onde não se esteja em alerta. Também a política de uso de agrotóxicos no campo é extremamente danosa para os rios, assim como os crimes ambientais, mineiração sem controle, tudo isso são fatores de piora. Nós também somos responsáveis pela morte cotidiana destes rios", critica.
Para Félix, a saúde dos rios é um reflexo direto do abandono do poder público às políticas ambientais. O biológo avalia que falta fiscalização e proteção mais abrangente das matas ciliares e das áreas de recarga de lençol freático (pontos de infiltração no solo que levam a reservas de água subterrâneas, dando origem a nascentes), já que atividades predatórias e sem controle acabam contaminando o solo e as "nossas reais riquezas hídricas".
"A sociedades, o poder público e as ONGs fazem parte deste esforço para realmente reparar esse dano que estamos causando em níveis astronômicos. Precisamos de políticas públicas de saneamento, restauração florestal, segurança hídrica e de alimentação. A gente deve cuidar dos rios se quisermos cuidar da nossa própria saúde", apela.