O Departamento de Estado dos EUA comunicou no último sábado (13) que durante contato com chanceler brasileiro, Ernesto Araújo, foi reafirmada "a estreita amizade entre os Estados Unidos e o Brasil", aproveitando continuar trabalhando juntos para "enfrentar as crises políticas, econômicas e humanitárias na Venezuela". A Sputnik Brasil conversou com o especialista em relações internacionais da UFF, Eduardo Heleno, sobre o alinhamento entre Brasil e EUA na crise na Venezuela.
"Brasil pode estar se encaminhando para uma ação que seria uma espécie de 'terceirização' dos interesses norte-americanos", afirmou.
"Uma coisa que a gente tem que colocar, a princípio, é que realmente o governo de Maduro passa por uma grande crise, há uma série de acusações em relação aos direitos humanos. Mas entendemos que, por enquanto, são questões no âmbito da soberania da Venezuela […] Esse telefonema de Pompeo que foi feito no final de semana dá continuidade a outros contatos que foram feitos desde o início do governo. E me parece um tanto quanto preocupante", destacou Eduardo Heleno.
De acordo com ele, a postura de se pautar pelos interesses dos EUA em relação à crise venezuelana tira do Brasil o status de líder regional.
"O que ganha o Brasil ao escalar a violência com a Venezuela? […] O Brasil, ao pressionar, e não ter uma autonomia em termos de pensamento de política externa e só se guiar pelo pensamento norte-americano como tem aparecido, perde a sua liderança regional", afirmou.
De acordo com o acadêmico, esta aproximação — entre Jair Bolsonaro e Donald Trump — se dá "entre dois grupos políticos que têm posições mais radicais. E essas posições radicais podem ajudar a fechar algumas portas importantes para o Brasil".
Ao comentar a situação da política interna da Venezuela, Eduardo Heleno destacou a importância da atuação dos militares, que, segundo ele, têm "efetuado uma série de ações que garantem a legitimidade do governo".
"Então os militares têm um papel muito importante, que foi dado por Maduro. E isso ajuda a explicar também a manutenção dele e a dificuldade que tem a oposição para conseguir [derrubar o governo], embora, com a aparição de Guaidó, alguns oficiais e praças tenham flertado a favor do Guaidó", completa Eduardo Heleno.
A crise na Venezuela se agravou em janeiro, quando o líder da oposição, Juan Guaidó, apoiado pelos EUA, proclamou-se presidente interino do país. Maduro segue no poder apoiado por países como China e Rússia, entre outros, e acusa Guaidó de conspirar para derrubá-lo com o apoio de Washington.