Os agrotóxicos foram detectados por empresas de abastecimento de água em 1.396 municípios brasileiros. Dos 27 pesticidas encontrado nas águas dos municípios, 16 são classificados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) como "extremamente" ou "altamente tóxicos". Ainda, 11 dessas substâncias estariam ligadas ao desenvolvimento de doenças crônicas, tais como câncer, malformação fetal, disfunções hormonais e reprodutivas.
O engenheiro defende que a agricultura deva andar em direção a uma produção orgânica e agroecológica, classificando como "inadmissível" que haja esse tipo de efeito detectado sobre as águas em decorrência da presença dos agrotóxicos nos alimentos.
Apesar do levantamento, ainda há um nível de subnotificação, pois a maioria dos 5.570 municípios brasileiros sequer participou do levantamento, deixando 2.931 municípios de fora do estudo. Dos 1.396 municípios analisados, 92% apresentaram algum nível de contaminação em suas águas. O número cresceu e já esteve em 75% no levantamento de 2014.
"Isso não pode acontecer. Não é para isso que os agroquímicos foram produzidos. Eles foram elaborados para que possam ser usados com a […] máxima segurança possível e o mínimo impacto para as pessoas", aponta Manfrinato. "É inadmissível que o alimento chegue contaminado à mesa do consumidor".
Para o especialista, no entanto, a liberação de agrotóxicos durante o governo Bolsonaro, tida como a mais acelerada desde 2010 durante os 100 primeiros dias de governo, pode ser vista como uma ação política mas que ao mesmo tempo facilita a entrada, no Brasil, de novas tecnologias químicas de menor. Apesar disso, 28% dos 152 agrotóxicos liberados no período são proibidos na União Europeia.
A responsabilidade da situação apontada pelos dados do Ministério da Saúde, explica Manfrinato, é ampla e abrange desde a indústria química aos agrônomos que levam esses produtos às plantações, além dos órgãos fiscalizadores e dos próprios agricultores.
Para o engenheiro, a solução para o atual estado apontado pelo Ministério da Saúde passaria tanto pela disponibilização no Brasil de químicos menos poluentes, quanto de uma fiscalização mais rígida, que ao liberar o uso das substâncias acompanhe sua distribuição e aplicação. O mote dessas medidas seria o uso responsável das substâncias.
"O consumidor precisa ter essa proteção, tanto do Estado, quanto das organizações observadoras, para que essas novas tecnologias disponíveis, ou esses novos agroquímicos, agrotóxicos, disponíveis no mercado, possam ser controlados", conclui o engenheiro agrônomo.