Vladimir Tararov, embaixador da Federação da Rússia na República de Angola, comenta em entrevista à Sputnik Brasil as relações econômicas russo-angolanas e fala das perspectivas da economia angolana.
Tararov sublinhou que com o novo presidente, João Lourenço, a Angola entrou em uma nova etapa do desenvolvimento econômico do país.
"Até agora, a economia angolana tem sido baseada no petróleo, 95% do seu orçamento é formado pelo petróleo e um pouco mais de 4% pelos diamantes, por isso hoje o país planeja encontrar investidores para tornar a economia mais harmoniosa e equilibrada. Antes de mais, é necessário desenvolver a economia das regiões, porque as províncias do país ainda estão subdesenvolvidas enquanto têm um potencial enorme, especialmente no setor agrícola", revelou o embaixador, acrescentando que o país, cujo clima permite colher duas safras por ano, tem potencial para não apenas se abastecer de produtos agrícolas, mas também para exportá-los à América, à Europa e até à Ásia.
Segundo Tararov, a cooperação agrícola russo-angolana foi discutida durante a visita oficial do presidente de Angola à Rússia.
"É de assinalar que no âmbito da visita [de João Lourenço a Moscou] foi realizado o fórum econômico russo-angolano, do qual participaram cerca de 130 empresários angolanos e mais de 400 empresários russos, que mostraram seu interesse na cooperação com Angola e em investir na economia do país", revelou ele.
"Elas [joint ventures] são muito importantes, não apenas para criação de capacidades industriais, mas porque no âmbito das joint ventures os especialistas russos poderiam, nas primeiras etapas, ajudar a parte angolana a gerir essas empresas. Durante esse período poderiam ser formados especialistas angolanos, mas isso levaria tempo, pelo menos três a cinco anos", disse ele.
Tararov sublinhou que durante a visita do presidente angolano à Rússia foram marcadas várias áreas de cooperação entre os dois países, incluindo o setor energético, o abastecimento de água potável, a agricultura e a indústria.
Quanto aos investimentos russos no setor energético angolano, ele revelou que se trata, em primeiro lugar, do hidrelétrico, mas não descartou a participação da Rússia na construção de usinas nucleares em Angola.
"Angola está ativamente construindo linhas de transmissão de energia elétrica com uma atitude muito razoável, tem um plano de desenvolvimento energético nacional. Essas oportunidades podem abrir algumas perspectivas para a nossa [russa] energia nuclear, se construirmos ali uma usina nuclear, que poderia atender à demanda da parte angolana em energia, e o mais importante é que não seria necessário reconstruir as linhas de transmissão, porque, de fato, eles já constroem linhas de transmissão de 500 kV, a tensão mais alta", afirmou ele.
O embaixador sublinhou que as relações entre a Rússia e Angola têm uma longa história que começou ainda na época da URSS e que esta cooperação deveria continuar.
"A Rússia nunca usou a cooperação econômica como um meio de influenciar o poder político. A parte russa, a Rússia como Estado, nunca esteve envolvida na colonização. Por isso, agora a Rússia tem um peso de confiança perante os países africanos, porque não a veem como uma ameaça como, por exemplo, as ações econômicas de alguns países ocidentais. Atualmente, muitos países desenvolvidos usam a pressão econômica para mudar o poder, para mudar governos, e às vezes até o fazem através do uso da força, o que é inaceitável", sublinhou.
"Quanto à Rússia, os países africanos entendem que se nós chegamos com cooperação econômica, ela será mutuamente vantajosa, veem-nos como parceiros de longo prazo que são capazes de prestar assistência na recuperação do país ou até mesmo na recuperação de todo o continente africano", acrescentou Tararov.
"Quando o presidente João Lourenço visitou a Europa, em um curto período de tempo, cerca de três meses, ele voltou ao país com promessas de investimento no valor de 11 bilhões de dólares, um valor impressionante", revelou o embaixador.
Outro investidor importante nos países africanos, incluindo Angola, é a China, mas esses investimentos revelam um problema importante.
"Todos os investimentos realizados pela China foram efetuados através de garantias estatais, créditos que devem ser pagos. Segundo diferentes estimativas, de 55% a 65% das receitas recebidas de exportações petrolíferas vão para a China para amortizar esses créditos. Imaginem que as receitas petrolíferas são responsáveis por 95% do orçamento do país, enquanto 65% delas vão para a China para amortização dos créditos. Sem dúvidas, essa dependência causa preocupações ao governo angolano, e por isso Angola quer diversificar suas relações econômicas internacionais para não depender de um só país", explicou ele.
Entre os maiores desafios da economia angolana, o diplomata nomeou a fuga de cérebros. Hoje os jovens querem receber uma boa formação e conseguem obtê-la, mas muitos deles decidem abandonar a África. Agora o objetivo mais importante é formar especialistas que ajudem os países africanos a se desenvolver, não apenas no setor de indústria e na política, mas também na área social.
Além disso, durante o último ano, durante a presidência de João Lourenço, foi criada uma base jurídica poderosa e foram transformadas muitas leis que travavam a participação de países estrangeiros na economia angolana, incluindo várias restrições cambiais.
"Em Angola foram criadas circunstâncias mais favoráveis para o funcionamento dos empresários estrangeiros porque, com a chegada do novo presidente, Angola se colocou no caminho do desenvolvimento do país. As duas primeiras etapas do desenvolvimento do país já passaram: Angola se libertou e conquistou a paz. Agora eles estão conquistando o bem-estar, mas não parasítico, não através da exportação do petróleo, mas pelo desenvolvimento econômico", disse ele.