Rússia 'volta' a Vênus: quais são os perigos desta expedição espacial?

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Depois de 2025, a Rússia vai enviar para Vênus uma nave espacial com um módulo de pouso, estando a ser escolhida a melhor área para "aterrissar". A agência Sputnik falou com um especialista, que explicou quais os locais deste planeta mais convenientes para pousar.

O que aconteceu com os oceanos?

Vênus é um planeta semelhante à Terra em tamanho, densidade e, possivelmente, em composição química. Partindo disso, os cientistas supõem que ambos os planetas foram formados no mesmo tempo, na mesma zona do disco protoplanetário e a partir da mesma matéria.

Mas a atmosfera, o estado da superfície, as condições físicas dos dois planetas diferem significativamente. Terra e Vênus são como gêmeos separados imediatamente após o nascimento e desenvolvidos em países diferentes.

Ao longo de bilhões de anos, a Terra se transformou em um paraíso quente e florescente, cheio de vida, e Vênus em um deserto queimado e sem uma gota de água. No entanto, é possível que no passado tenha havido oceanos lá. Há apenas um argumento a favor desta suposição, mas muito convincente.

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"Quando a sonda Pioner-Venera desceu à atmosfera de Vênus, uma gota de ácido sulfúrico atingiu o seu analisador. Acontece que nela a correlação entre deutério e hidrogênio era 150 vezes maior do que na Terra. Este é um resultado muito incomum", diz Mikhail Ivanov, doutor em Ciências Geológicas e Mineralógicas, chefe do Laboratório de Planetologia Comparativa da Academia de Ciências da Rússia.

Como explica o cientista, o principal componente da molécula de água, o hidrogênio, é um elemento leve, que desaparece rapidamente. Primeiramente desaparece o seu isótopo principal, depois os mais pesados, ou seja, o deutério e o trítio.

"Acontece que, há alguns bilhões de anos, havia muita água em Vénus. Claro, estes são cálculos de modelação, muito depende da dinâmica de desaparecimento do hidrogênio, mas os resultados parecem razoáveis", disse Ivanov.

Planeta russo

As primeiras tentativas dos cientistas soviéticos de fazer pousar aparelhos espaciais em Vénus nos anos 60 mostraram que as condições lá são muito difíceis. Devido ao forte efeito de estufa, a temperatura da superfície atinge quase 500 C, a atmosfera tóxica cria uma pressão como no fundo do oceano. Os dispositivos funcionaram por apenas alguns minutos, no máximo uma hora.

Os últimos voos de aparelhos da missão soviética Vega a Vénus foram realizados em 1985. Desde então, o planeta foi monitorado só a partir de órbita. Mas a Rússia pretende regressar a este planta. Vários grupos de cientistas russos, com os seus colegas americanos e sob a liderança do Instituto de Investigação Espacial da Academia de Ciências da Rússia, estão envolvidos no projeto Vénus-D.

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Na Terra há continentes e oceanos, como sabemos. Os continentes são partes antigas da crosta terrestre, salientes acima dos oceanos, com fundação de granito e uma forte cobertura de sedimentos. O fundo do oceano é composto por basaltos relativamente jovens.

Em Vénus, ao contrário, toda a superfície é mais ou menos do mesmo nível. Provavelmente é constituída por basaltos, ou seja, formou-se por fusão da lava vulcânica. Os cientistas distinguem as áreas do planeta apenas pela idade, com base na sua localização. As mais velhas são chamadas de tésseras.

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"As tésseras são grandes elevações em forma de planalto. Por exemplo, a téssera de Ovda é comparável em área à Austrália. A maioria delas é muito mais pequena do que os continentes terrestres. As tésseras são zonas que suscitam bastante interesse", diz Mikhail Ivanov.

Se analisarmos a densidade das crateras de meteoros, as áreas mais antigas (de entre as que se conseguem observar) se formaram há pelo menos 500 milhões de anos. Os investigadores acreditam que este teria sido o começo da história visível de Vénus.

"Depois aconteceu um surto de atividade vulcânica. Alguns chamam a este período catástrofe planetária, mas eu não diria isso. Se estivéssemos lá, não teríamos notado nada de especial. Foi nessa altura que surgiu a maior parte da lava a partir da qual as planícies se formaram. Há cerca de 300 milhões de anos, houve um período mais calmo, a atividade vulcânica continuou, mas não tão intensa", explica o cientista.

Onde pousar o aparelho?

O cientista explicou que 40 % da superfície de Vênus são planícies sem sinais de vulcões. Provavelmente, a lava que as formou foi saindo para a superfície através de fendas gigantes. Tal vulcanismo existe na Terra em vários lugares, como na Islândia e debaixo de água, nas cristas do oceano, segundo Ivanov.

São essas planícies que os pesquisadores consideram como os sítios prioritários de pouso, sendo a escolha determinada principalmente pela segurança. A téssera sobre a qual todos gostariam de pousar e pesquisar não é uma boa escolha, porque a superfície é muito perigosa, consiste em locais cortados por saliências verticais, aglomerados de calhaus. "Pousar ali é quase certo que será um desastre", diz o cientista.

"Quando um meteoroide colide com a superfície, uma enorme massa de matéria esmagada libera-se na atmosfera, cobrindo depois a área com uma camada de detritos. Forma-se uma área plana, que é segura para o pouso. Mas aqui se deve ter em conta o critério da importância científica", acrescenta Ivanov.

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Na opinião do cientista, aterrissar em planícies formadas por impacto não é tão interessante, pois a substância liberada pode transformar-se significativamente ao passar pela atmosfera. As planícies vulcânicas estão melhor preservadas, uma vez que não há erosão em Vénus como na Terra. Ou seja, as rochas na superfície não são destruídas pela água, vento, mudanças de temperatura.

"Na verdade, não temos a certeza disso. Não há praticamente nenhum dado sobre a geoquímica da superfície. As medições realizadas pelos aparelhos soviéticos são pouco exatos, os equipamentos eram imperfeitos, os erros eram demasiado grandes", explica o investigador.

Assim, os cientistas estão escolhendo entre dois tipos de planícies vulcânicas. O primeiro, provavelmente, foi formado a partir da substância do manto superior, o segundo da crosta do planeta. "A questão é se queremos testar a matéria do manto ou da crosta. Ainda não está claro", diz Ivanov, acrescentando que a localização do pouso dependerá da órbita e, portanto, da data de início da missão.

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