Sanções dolorosas
Depois que o presidente dos EUA Donald Trump anunciou a retirada dos EUA do acordo nuclear com o Irã, conhecido oficialmente como Plano de Ação Conjunto Global (JCPOA), em 8 de maio de 2019, Washington reintroduziu vários pacotes de sanções contra Teerã.
Entretanto, oito países importadores de petróleo foram isentos dessas sanções por um período de seis meses. Trata-se das isenções à China, Índia, Turquia, Japão, Coreia do Sul, Taiwan, Itália e Grécia (os três últimos já deixaram de comprar petróleo iraniano) para "garantir um mercado de petróleo bem suprido".
Em 22 de abril, o presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou sua decisão de não reemitir as exceções para que esses oito países importem petróleo iraniano depois de expirarem em 2 de maio.
Vale ressaltar que o objetivo de Washington é cortar as exportações de petróleo do Irã para zero para que Teerã perca sua principal fonte de receitas orçamentárias. Ao mesmo tempo, o Irã continua sendo um dos maiores atores no mercado petrolífero global e vários países dependem do petróleo iraniano.
Levando em conta esses fatos, como é que o fim das dispensas de sanções para os importadores de petróleo iraniano poderia afetar o mercado petrolífero global? Será que esse passo de Washington teria consequências para a economia mundial?
"Pressão máxima sobre o regime iraniano significa pressão máxima. É por isso que os EUA não farão exceções aos importadores de petróleo iraniano. O mercado global de petróleo continua bem abastecido. Estamos confiantes de que permanecerá estável à medida que as jurisdições se afastem do petróleo iraniano", escreveu na sua conta no Twitter o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo.
Segundo Brian Hook, representante do Departamento de Estado americano para o Irã, desde a reintrodução das sanções dos EUA contra Teerã, mais de 20 países já reduziram a zero seu comércio de petróleo com esse país. Além disso, ele declarou que os EUA ajudarão o Iraque a aumentar sua produção de petróleo para que a Turquia e outros países importadores permaneçam bem supridos depois que Washington acabar com as dispensas de sanções.
Donald Trump, por sua vez, manifestou sua certeza que a Arábia Saudita e outros países membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) produzirão petróleo suficiente para compensar o declínio do fornecimento de petróleo iraniano no mercado global.
No entanto, a situação talvez não seja tão simples como pode parecer. Em meio a notícias sobre o fim das isenções, os preços do petróleo tocam sua máxima desde outubro de 2018. Tomando em consideração as turbulências na Venezuela e Líbia – outros dois dos principais exportadores de petróleo, o preço do petróleo poderia continuar aumentando. Sem dúvidas, esse fato causa preocupações aos grandes importadores de petróleo, incluindo a China, Índia e Turquia.
O porta-voz da chancelaria chinesa, Geng Shuang, sublinhou que "esta jogada relevante dos EUA vai intensificar a turbulência no Oriente Médio e a turbulência no mercado energético internacional".
O chanceler da Turquia Mevlut Cavusoglu criticou a decisão dos EUA de revogar as isenções às sanções relativas ao petróleo iraniano, declarando que essa medida "inaceitável" afetará a paz e estabilidade regional. Segundo Cavusoglu, a Turquia rejeita as sanções e restrições unilaterais em relação a seus vizinhos.
O analista chefe da empresa financeira BCS Premier, Anton Pokatovich, revelou à Sputnik Brasil que a dimensão dos danos causados por essa decisão americana contra o setor petrolífero iraniano vai ser determinada pela disposição dos outros países de não se submeterem à pressão de Washington.
"Segundo nossas estimativas, apenas a China e, até certo ponto, a Índia podem ter essa disposição. Entretanto, mesmo se supusermos que esses dois compradores do petróleo iraniano consigam atrasar o processo de desistência dos fornecimentos iranianos, já os outros exportadores seriam obrigados a mudar estrutura das suas importações petrolíferas", explicou o analista, sublinhando que o preço do petróleo poderia atingir 80 dólares por barril.
Quanto ao próprio Irã, o líder supremo iraniano, aiatolá Ali Khamenei, declarou que o país continuará a vender petróleo apesar das tentativas dos EUA de bloquear seu comércio.
De acordo com especialistas, a resposta de Teerã às novas medidas restritivas dos EUA poderia ser verdadeiramente dura: o Irã é capaz de fechar o estreito de Ormuz, responsável pelo trânsito de ao menos 20% do petróleo mundial. Através deste estreito passam exportações de petróleo não apenas do Irã, mas também do Kuwait, Bahrein, Qatar, Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita. Isso levaria ao aumento drástico dos preços do petróleo, pois as consequências do bloqueio dessa rota marítima seriam catastróficas para o mercado de petróleo mundial.
"Estamos observando a formação de riscos significativos de haver uma pressão sobre a demanda global por petróleo e sobre o crescimento do segmento dos mercados emergentes, que são os maiores consumidores de petróleo no mundo. Tendo em consideração o fortalecimento do dólar e as preocupações sobre o crescimento global, o aumento exagerado dos preços do petróleo poderia agravar as tendências negativas nos mercados em desenvolvimento e o enfraquecimento das moedas desses países", disse Pokatovich à Sputnik Brasil.
No contexto da pressão que vive a economia global (aumento das taxas de juro e guerras comerciais), a situação poderia ser considerada ainda mais grave. De acordo com previsões do Fundo Monetário Internacional (FMI), a economia mundial irá desacelerar neste ano em 70% dos países. Quanto ao mercado petrolífero, qualquer aumento dos preços do petróleo alastrará aos preços das outras commodities, levando a uma pressão inflacionária, desequilíbrios comerciais e, possivelmente, a uma recessão a nível global.