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Especialista atribui alto índice de amputações de pênis a vergonha e falta de informação

© Fotolia / Remains Médicos durante a cirurgia (imagem referencial)
Médicos durante a cirurgia (imagem referencial) - Sputnik Brasil
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Na última quinta-feira, o presidente Jair Bolsonaro compartilhou com a imprensa uma grave preocupação com a saúde dos homens no Brasil, onde cerca de mil pênis são amputados todos os anos em decorrência principalmente da falta de higiene. Segundo especialistas, tal situação, que tem alarmado os médicos há vários anos, resulta majoritariamente da falta de acesso a informação adequada.

Embora o alerta do chefe de Estado brasileiro tenha gerado certa confusão na sociedade, pelo local e momento em que ele foi feito — na saída do Ministério da Educação, onde esteve para discutir questões ligadas ao ensino —, as declarações de Bolsonaro expõem uma triste realidade enfrentada por uma parcela dos brasileiros, envolta por questões socioeconômicas, vergonha e preconceito.

Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, fala com a imprensa após visita ao Ministério da Educação, 25 de abril de 2019 - Sputnik Brasil
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Preocupação de Bolsonaro com amputação peniana causa confusão em brasileiros
Os dados assustadores sobre amputações penianas estão ligados diretamente a um tipo de câncer pouco conhecido por boa parte da população brasileira. De acordo com o Ministério da Saúde, o câncer de pênis é um tipo raro de câncer, com maior incidência em homens com mais de 50 anos e mais comum nas regiões Norte e Nordeste do país, associado à má higiene íntima, à infecção pelo papilomavírus humano (HPV) e a homens que não se submeteram à circuncisão, a remoção do prepúcio, pele que reveste a glande — a "cabeça" do pênis. Essa doença representa 2% de todos os tipos de câncer que atingem os homens e, quando não identificada precocemente, pode levar à amputação total do órgão. 

Segundo o médico Eduardo de Castro Ferreira, membro da área de câncer de pênis e testículo do Departamento de Uro-oncologia da Sociedade Brasileira de Urologia, os casos de câncer de pênis estão, sem dúvidas, associados a pessoas com níveis muito baixos de educação, a ponto de não saberem fazer uma higiene adequada da área genital. No entanto, ele destaca que problemas como a fimose e o próprio HPV podem, também, favorecer o aparecimento da doença. O especialista reforça que, assim como afirmou ontem o presidente, a melhor maneira de evitar esse tipo de câncer é através da utilização de dois remédios simples: água e sabão (sabonete). 

Em entrevista à Sputnik Brasil, o uro-oncologista chamou a atenção para outro fato de grande importância relacionado às amputações, que é a demora dos homens em buscar ajuda especializada após o surgimento de anomalias no pênis.

"Ele aparece inicialmente como uma úlcera, uma ferida que ocorre no pênis. O fato é que, normalmente, o homem espera seis meses para procurar o médico, para que ele possa fazer o diagnóstico adequado e o tratamento adequado", disse Ferreira, ressaltando que quanto mais cedo o profissional de saúde for procurado, melhor. 

Para o especialista, a melhor forma de prevenir esses e outros problemas ligados aos órgãos sexuais é através da educação, tanto em casa, com os responsáveis, como através dos professores, na escola. No caso do câncer de pênis, como ele sublinha, essa troca de informações é ainda mais efetiva, por se tratar de uma doença mais facilmente evitável. 

"Se eu tomo banho três vezes por dia e passo sabonete pelo menos uma vez por dia, eu posso assegurar que eu não vou ter câncer de pênis. Eu não posso dizer o mesmo do câncer de próstata, do câncer de mama, do câncer de colo, porque são fatores que independem de você. Mas o câncer de pênis depende exclusivamente da pessoa."

Embora o número de casos desse tipo de câncer seja menor do que de outros, essa doença se caracteriza por efeitos igualmente devastadores para os seus pacientes. Segundo Eduardo de Castro Ferreira, os impactos psicológicos, familiares e sociais provocados por uma amputação de pênis podem ser tão terríveis que, por vezes, alguns pacientes se recusam a se submeter a esse tipo de cirurgia, preferindo morrer com a doença. 

"A doença é mutiladora. O tratamento é mutilante. Daí a necessidade de nós termos o cuidado de fazer todo esse trabalho [de conscientização] antes que isso aconteça."

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