Por quê a combustível líquido?
Nós já nos habituamos ao fato que os primeiros mísseis balísticos eram a combustível líquido, mas mais tarde, primeiro nos EUA e depois na URSS, se aprendeu a preparar combustíveis sólidos com combinações de substâncias eficazes e todos os mísseis passaram a ser a combustível sólido. Contudo, a Rússia mantém em seu serviço até ao presente tanto mísseis a combustível sólido de alta eficácia como mísseis intercontinentais a combustível líquido. A razão é muito simples – com os mesmos indicadores de massa e dimensões, os mísseis a combustível líquido podem colocar na trajetória de ataque "cargas úteis" de massa consideravelmente maior. Como consequência, em vez de 3-6 blocos de combate, um de tais mísseis pode portar 10-12 ou mais blocos a grandes distâncias.
Cada bloco de combate é precisamente a tal ogiva nuclear que pode atingir potencialmente seu alvo no outro lado da Terra. Além dos blocos de combate, o míssil porta ainda um conjunto de contramedidas para superar os meios de defesa antiaérea do inimigo. Esse conjunto pode incluir sistemas de colocação de engodos e alvos falsos para confundir os radares inimigos e desviar sua ação das ogivas verdadeiras. Assim se garante que sejam atingidos os alvos mais importantes e protegidos em profundidade do território inimigo.
Como tudo começou?
Um substituto digno
Até 2010 se tornou evidente que o prolongamento dos prazos de exploração dos ICBM pesados Voevoda para além de 2020-2022 era pouco provável, enquanto o desarmamento nuclear geral ainda não tinha começado e que a renovação da componente pesada das Tropas de Estratégicas de Mísseis era extremamente necessária. Até 2012 foram iniciados trabalhos em grande escala para elaboração dos projetos do novo míssil que deveria substituir em serviço o Voevoda – o ICBM pesado RS-28 Sarmat.
O míssil virá de onde menos se espera
Além disso, o Sarmat possui muito maior massa do peso útil portado até ao alvo que o Voevoda (10 toneladas contra 8,7 toneladas) e um alcance de 11.000 km. Se a massa da carga útil for menor, o alcance do míssil pode ser aumentado, e em uma das versões de seu equipamento de combate o míssil poderia se tornar "global". Um míssil global pode atingir o alvo desde qualquer direção – ele pode voar até ao alvo usando não o percurso mais curto, mas, por exemplo, uma rota através do Polo Sul – dessa forma aumenta, mais uma vez, a probabilidade de superação da defesa antimíssil, visto que esta normalmente se concentra nas direções mais prováveis de origem dos mísseis.
Considera-se que o Sarmat, tal como o Voevoda, irá portar pelo menos 10 ogivas comuns ou de 3 a 5 ogivas guiadas de nova geração. Em conjunto com os meios de camuflagem modernos da carga de combate e com as contramedidas de superação da defesa antimíssil adversária, rechaçar o ataque de um Sarmat seria extremamente pouco provável.
Rússia garante resposta
Certamente que tal míssil intercontinental será desdobrado em quantidades limitadas e, de acordo com as notícias divulgadas na mídia, nos mesmos silos de lançamento em que estão agora os mísseis Voevoda. Os locais de posicionamento desses mísseis, protegidos e afastados ao máximo, os tornarão inalcançáveis para os sistemas de armamento convencionais, mas, considerando seu alcance quase ilimitado, esses mísseis serão capazes de atingir garantidamente qualquer agressor.
O programa de testes do Sarmat inclui, no mínimo, duas fases – durante a primeira foram efetuados vários lançamentos iniciais de protótipos dos mísseis, com arranque dos motores de aceleração e ajustamento do lançamento para fora do silo. O primeiro de tais lançamentos foi efetuado em 2017 – pouco antes da apresentação pública dos novos mísseis, que aconteceu durante o discurso de Vladimir Putin perante a Assembleia Federal no dia 1º de março de 2018.
Especialista militar Dmitry Kornev para a Sputnik