Na última sexta-feira, a Secretaria de Comunicação Social da Presidência informou que o chefe de Estado brasileiro havia desistido de ir à Big Apple para receber um prêmio de personalidade do ano da Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos, depois de uma intensa campanha contra a sua presença na cidade, com direito a críticas diretas proferidas pelo prefeito Bill de Blasio.
Para o professor de Relações Internacionais Pedro Costa Júnior, das Faculdades Rio Branco e da Faculdade de Campinas, do ponto de vista norte-americano, essa pequena crise envolvendo o líder brasileiro evidencia uma divisão pré-eleitoral que já afeta de alguma forma os Estados Unidos. De um lado, os democratas, como Bill de Blasio, e, de outro, os republicanos, como o presidente Donald Trump. E, segundo ele, essa disputa vai ficando mais tensa conforme se aproximam as prévias do Partido Democrata. No entanto, além disso, o especialista também aponta a própria figura de Bolsonaro como motivo para reações tão negativas à sua possível presença na maior cidade dos Estados Unidos.
"Suas declarações, sobretudo com relação aos direitos humanos, fora do Brasil, têm um peso muito grande", disse Costa Júnior em entrevista à Sputnik Brasil, citando as homenagens feitas pelo presidente ao torturador Brilhante Ustra, ao ditador chileno Augusto Pinochet e ao paraguaio Alfredo Stroessner.
De acordo com o professor, embora a grande imprensa brasileira trate Jair Bolsonaro como um político de direita, no exterior, os veículos de mídia o veem como extrema-direita, o que faz muita diferença.
"Do lado brasileiro também, nós temos também uma presidência muito controversa visitando um país já em clima pré-eleitoral."
"Seria no mínimo prudente também articular, considerar relações mínimas aí com lideranças democratas, que podem voltar à Casa Branca", afirma interlocutor da agência.
O professou lembrou também que os EUA não tem amigos e que é muito inocente por parte da política externa brasileira esperar tornar amigos com os norte-americanos:
"É preciso lembrar que os EUA não têm amigos, são declarações dos próprios norte-americanos, das lideranças norte-americanas […] Os EUA têm em primeiro lugar si mesmos, em segundo lugar si mesmos e no terceiro lugar si mesmos. Quer dizer, é muita inocência do ponto de vista da política externa brasileira achar que vai ser amigo dos americanos, de bater continência para a bandeira americana, enfim, chegar lá e dizer que ama a América, que ama a Adidas, que ama a Coca-Cola ou qualquer coisa do tipo."
Pedro Costa Júnior acredita que o mais importante para o Brasil seria é defender os interesses nacionais e tanto como o Itamaraty, quanto o presidente deveriam estar preocupados, não em ser amigos, mas em ter aliados importantes em todos os lugares do mundo, e sempre defendendo interesses brasileiros em primeiro lugar.