Em 1993, um grupo internacional de cientistas realizou pela primeira vez uma análise do DNA mitocondrial humano e revelou os vestígios de dois processos importantes: "engarrafamento" e "deriva dos genes".
O "engarrafamento" prova o declínio rápido da população e o empobrecimento do fundo genético – muitas variantes genéticas simplesmente desaparecem com os portadores do gene, explicou a colunista da Sputnik Alfia Enikeeva.
O segundo processo, "deriva dos genes" é típico das populações pequenas onde a frequência de ocorrência de cada gene muda frequentemente e aleatoriamente. Qualquer evento demográfico, mesmo o mais insignificante, por exemplo a morte súbita de um homem sem filhos, pode mudar o cor dos olhos e os cabelos da futura geração de representantes da sua tribo .
A interpretação desses fatos permitiu concluir que, há cerca de 50-70 mil anos, a humanidade esteve à beira de extinção. A população declinou até 10.000 indivíduos e permaneceu pouco numerosa durante bastante tempo.
Quatro anos depois , os mesmos processos foram encontrados nos genes dos chimpanzés que habitam a África Oriental. A variedade genética do DNA mitocondrial dos macacos era tão baixa como a humana. Em 2004, durante a decodificação do ADN mitocondrial dos tigres da Ásia do Sul, os cientistas obtiveram os mesmos dados.
Um pouco mais tarde, vestígios de "engarrafamento" e "deriva dos genes" foram encontrados no DNA dos orangotangos das ilhas de Sumatra e de Bornéu. Isso significa que, no passado distante, os nossos antepassados e animais enfrentaram uma catástrofe climática global.
Longo inverno vulcânico
Na Terra existem vinte supervulcões cuja erupção pode causar mudanças climáticas no planeta inteiro. Os cientistas suíços estabeleceram que esses vulcões explodem uma vez em cada 100.000 anos e que esse tipo de erupção ocorreu há cerca de 75.000 anos, nas vésperas do "engarrafamento". Trata-se do vulcão Toba, na Indonésia.
Como resultado, na ilha de Sumatra surgiu o lago Toba e as cinzas vulcânicas cobriram um território de cerca de 40 milhões de quilômetros quadrados. As cinzas dessa erupção foram encontradas mesmo no fundo do lago Malawi (África) a 7.000 quilômetros de Sumatra. Atingindo a atmosfera, as cinzas bloquearam a luz solar, causando o inverno vulcânico, explicou um grupo internacional de cientistas. As temperaturas anuais atingiram o seu mínimo, caindo, segundo várias estimativas, em 5-15 graus Celsius.
Isso explica por que os primeiros Homo sapiens, que abandonaram a África há 125.000 anos, entraram em extinção, enquanto a população que decidiu permanecer no continente declinou para 10.000 indivíduos.
Entretanto, há vestígios que contradizem a teoria da catástrofe de Toba. Durante escavações no sul da Índia, antropólogos americanos encontraram ferramentas paleolíticas em cima e debaixo da camada de cinza vulcânica. O mesmo foi encontrado em sepulturas de povos antigos na costa sul-africana. As ferramentas encontradas provam que os nossos antepassados viveram ali antes, durante e após a catástrofe. Além disso, parece que a catástrofe não abalou os homens de Neandertal, que atingiram o auge do seu desenvolvimento após a erupção de Toba.
Levantando a cinza do fundo do lago Malawi, os cientistas estabeleceram que sua concentração não foi suficiente para influir no ecossistema local. Se tivesse havido muitas cinzas e a temperatura na região tivesse caído em ao menos quatro graus, a maioria dos organismos nas camadas superiores do lago ter-se-ia extinguido.
No entanto, a análise dos sedimentos revelou que isso não aconteceu. Por conseguinte, a erupção de Toba e o suposto inverno vulcânico não poderiam ter causado o "engarrafamento". Entretanto, os cientistas afirmam que uma coisa é certa: há 70.000 anos a humanidade quase desapareceu – a Terra enfrentou uma catástrofe climática. Mas o que é que causou essa catástrofe? A questão permanece em aberto.